domingo, 13 de março de 2011

O bolero do pênalti perdido

Eu queria ter sido cantor de bolero. Provavelmente minha vida estaria muito pior agora. Os dentes também. As contas atrasadas, o aluguel, o IPVA da velha Caravan. Os amigos indo embora, um a um, de cirrose, hepatite, tristeza, solidão...

Ser um cantante, obviamente, também teria seu lado bom. Mulheres apaixonadas, infinitas doses de vermute, orquestras afinadas me acompanhado, plateias lotadas me aplaudindo. Não, não, isso não. Eu não me mudaria pro México ou pra Argentina para realizar meu sonho.

Como nunca tive muito talento pra cantar, virei então, jornalista esportivo. Mas o bolero eterno que toca dentro do meu coração nunca me largou, e até hoje não me deixa acompanhar uma partida de futebol sem sentir o drama e a tristeza de uma canção apaixonada.

Existe coisa mais cruel do que um pênalti perdido? Um gol praticamente feito vira uma decepção sem igual. Isso é letra de bolero, acordes desesperados e a voz rouca do cantor tentando, inutilmente, mudar o passado.

O goleiro que defende um pênalti é um canalha. É o sujeito que está com a mulher do cantor, na letra da música. É o traidor, é aquele que causou a tragédia e a separação da união mais óbvia criada por Deus: atacante e gol.

Todo pênalti deveria ser transformando automaticamente em gol. E não venham me dizer que o goleiro vira herói. Porque é do vilão que vão falar o resto da vida. O doce da conquista passa, mas o amargo da derrota é eterno. Como um gole de vermute.

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