O genial Renan Damasceno teve uma ideia fantástica. Compartilhou
em seu perfil no Facebook histórias marcantes que viveu durante Copas do Mundo
passadas. Achei tão legal que resolvi fazer o mesmo. Perdoa o plágio descarado,
Renan, peço que encare como uma homenagem. Vou além. Sugiro que todos façam o
mesmo. Vai sair muita lorota boa.
Pra não ficar tão parecido com o post do meu amigo, resolvi
dividir o texto em tópicos, com cada edição da Copa que vi. Antes de escrever,
já imagino o prazer que terei ao fazer. Viva a Copa do Mundo! E viva o Renan
Damasceno!
1982 – Copa da Espanha – 5 anos de idade
Acreditem. Eu me lembro de muitas passagens da Copa de 1982,
mesmo tão novo. A mais marcante foi após o jogo entre Alemanha Ocidental e
Chile, que eu vi sozinho na sala. Meu pai estava trabalhando e minha mãe e
minha irmã Carla faziam outra coisa qualquer no quarto. Meu velho e eu tínhamos
uma tabelinha de bolso que atualizávamos toda noite. Ele chegou em casa depois
do trampo, pegou a tabela e me chamou pra ajudá-lo, como de costume. Perguntou
pra minha mãe quanto tinha sido Alemanha x Chile. Ela não sabia. Mas eu mandei
de cara: - 4 a 1 pra Alemanha. Ele me olhou espantado, mas acreditou e marcou
na tabela. Depois, na hora do jornal e da confirmação do resultado, abriu um
sorrisão e deixou a tabelinha sob minha responsabilidade a partir de então.
Eu sonhava em ser o Dasaev, goleiro da União Soviética. Até
hoje me lembro daquele CCCP na camisa dele.
1986 – Copa do México – 9 anos
Desta me lembro de quase tudo. Foi a primeira vez que sofri
com futebol. Carla e eu gastamos o troquinho que tínhamos pra comprar bombinhas
bem no jogo com a França. Eu fiquei puto demais com a derrota injusta. E mais
ainda por Zico ter sido o vilão. Eu já era fã dele.
Torci escondido pelo Maradona. E achei a camisa da Dinamarca
a mais legal que já tinha visto. Nunca masquei tanto chiclete na vida. As
figurinhas da Copa vinham no Ping Pong. Nesta época, cultivei uma grande
colônia de cáries.
1990 – Copa da Itália – 13 anos
A Copa de 90 foi a que vivi com mais intensidade. Foi nesta
época que decidi ser jornalista esportivo. Acho que até hoje me lembro do
resultado de todos os jogos. Pena que foi uma Copa terrível tecnicamente, a
pior da história. Eu preenchi mais de 50 tabelas. Acho que ainda estão
guardadas em algum lugar da casa da minha mãe.
Mesmo detestando o Lazaroni, fiquei chateado com a derrota
do Brasil para a Argentina. Passei a torcer pra Itália. Outro toco argentino.
Na final, torci pro Maradona e levei ferro mais uma vez. Foi brabo!
Anos depois, me encontrei com o Goycochea, goleiro
argentino, bati um bom papo e tomei cerveja com ele. Tenho uma foto pra provar!
1994 – Copa dos EUA – 17 anos
Minha primeira Copa etílica! Fiz festa como um louco. Vi os
quatro primeiros jogos do Brasil em BH e os três últimos em Várzea da Palma.
Comemorei muito o tetra, de verdade. Pela primeira vez chorei
pela Seleção. Tá certo que eu vi o jogo virado, num porre histórico. Mas
chorei...
Sofri as dores de Maradona e de Baggio como se fossem
minhas. Até hoje não entendo esta mistura de euforia e tristeza após o pênalti
que o italiano bateu como um tiro de meta. Talvez metade das minhas lágrimas
tenham sido pelo Baggio.
1998 – Copa da França – 21 anos
Torci como um doido pra Seleção. Nada a ver com futebol. A cada
vitória, Belo Horizonte se transformava num grande carnaval e eu estava no auge
desta fase.
A final contra a França teve um lance engraçado demais. Meu
amigo Claudão e eu fomos pra casa da família Ubaldo ver o jogo. Claudão tem
quase dois metros, era magrelo na época, estava com a barba por fazer e vestia
uma camisa apertadaça da Seleção. Quando chegou perto da turma, o coro foi
unânime:
- Sócrates! Sócrates! Sócrates!
2002 – Copa do Japão / Coreia do Sul – 25 anos
Esta Copa foi bem diferente de todas as outras. Em 2002, eu
vivia nos Estados Unidos e era taxista. Os jogos na madruga coincidiam com meu
horário de trabalho. Eu parava pra ver e logo voltava pro batente. Com exceção
da final, que foi no começo da manhã. Levei Sajid, um amigo paquistanês, comigo
pra um bar brasileiro. Foi emocionante ver o penta longe de casa. Deu uma
saudade louca de tudo aqui. A festa em Newark foi gigante, com a brasileirada
chutando o balde. Meu amigo do Paquistão ficou louco com a bagunça e a
mulherada de biquíni no meio da rua.
O mais marcante de tudo foi ver a comemoração dos
brasileiros na frente dos portugueses, que também são muitos em New Jersey. O
Brasil tem cinco títulos no futebol e Portugal já ganhou o Prêmio Nobel duas
vezes. Os caras passavam horas brigando por isto.
2006 – Copa da Alemanha – 29 anos
Foi uma Copa meio chata pra mim. Eu já não estava na idade
de fazer farra na rua e tinha muitos problemas pessoais pra me concentrar nos
jogos. A morte do Bussunda durante o evento me chateou ainda mais. Foi como ter
perdido um amigo próximo, mesmo sem tê-lo conhecido. Acompanhei tudo mais por
obrigação profissional do que por prazer.
A Itália ter vencido foi muito bom. Lembro de ter visto os
jogos da Azzura com minha irmã Carolina. Até hoje somos fãs declarados do
Buffa.
2010 – Copa da África do Sul – 33 anos
Nesta Copa, o bolão me fez torcer fanaticamente em cada
partida, até mesmo num modorrento duelo entre Eslováquia e Nova Zelândia. Valeu
a pena! Faturei uns trocados no final. Primeirão entre mais de 40 bobalhões!
O álbum da Copa foi outro ponto marcante. Voltei a ser
criança ao trocar figurinhas com meus alunos de violão. Até jogar tapão com
eles eu joguei.
O que vou levar pra toda vida desta Copa é a imagem do meu
grande ídolo Nélson Mandela colhendo o que plantou. Valeu, Madiba!