sábado, 13 de agosto de 2011

Quem ama vaia

Escuto um velho amigo dizer uma frase emblemática, e que sempre me perturbou, desde muito tempo atrás. Em todas as ocasiões, ganhando ou perdendo, rindo ou chorando, fevereiro ou junho, Paraíba ou Paraná, me lembro do nobre professor dizendo:

- Quem ama vaia.

Curioso que sou, não hesitei em perguntar o significado daquilo. Ele não tinha papas na língua e mandou:

- Amor é cobrança, é querer sempre o bem do outro. É não deixar quem você ama relaxar, nem achar que tudo está bom do jeito que está.

- Por que você vaia seu time então, mesmo quando ele está ganhando?

- Porque ele tem que continuar assim. Se eu não vaiar, os jogadores vão achar que está tudo bem, e aí vão se acomodar.

- E quando ele é campeão?

- Só foi campeão porque eu vaiei. Eles não descansaram nenhum segundo por causa da vaia.

- E seus filhos? Você aplaude?

- Não, claro que não. Eu criei. Sei o potencial deles e até onde podem ir.

- Seus alunos, professor?

- Menos ainda. Os pais deles os colocam lá naquela escola cara porque sabem que vão sair capacitados para o mundo.

- Nem quando tiram um 10?

- Claro que não, Se o aluno tirou 10 é porque era possível. Toda a matéria foi dada anteriormente. Mérito dele, mas não vou aplaudir. É melhor vaiar, para ele ficar alerta e não tirar 9 na próxima.

- E sua esposa, você vaia?

- Ah... aí não dá né? Não dá pra vaiar minha neguinha...

- Mas por quê? Você não a ama?

- Amo, claro. Muito.

- E vaia não é pra quem se ama?

- Sim, sim. Mas é praquele amor que a gente quer melhorar, que a gente quer que evolua. Aquele amor que você sabe que ainda tem mais pra dar, pra você e pro resto mundo. Seu time, seus alunos, até mesmo seus filhos. Isso é pro bem deles, não é maldade. Nunca vaiei alguém que eu não amasse de verdade.

- E sua esposa? Responde. Por que você não vaia?

- Nunca vaiei. Essa não dá pra vaiar. Ela me dá tudo que preciso. Ela me ampara quando eu caio e me perdoa quando erro. Ela me completa, me acelera e me freia. Ela me entende até quando eu mesmo ainda não me entendi.  Ela não precisa melhorar. Por isso que eu nunca a vaiei.

- Agora entendi.

- Você é chato demais. Pergunta muito. Vaia pra você!

* Para meus amigos Angel, Eugênio e Murillo, companheiros de muitas e históricas vaias.


domingo, 7 de agosto de 2011

Ausência

Estou com saudades. Morreria disso, se possível fosse. Sinto uma nostalgia terrível. Um vazio que não dá pra preencher com álcool, drogas ou um novo amor. Eu tentei, juro. Mas, confesso, foi tudo em vão.

Viajei. Busquei em plagas distantes consolo para uma ausência que me exige mais paciência e menos ansiedade. Em outros portos, tive o desplante de fazer comparações inócuas, até descobrir o que já era óbvio: nada pode substituir meu eterno amor.

Tento fugir do desespero. Numa agonia silenciosa que me tortura carne, pele e alma. São longas tardes sem sentido, e noites escuras em que me embriago de lucidez.

Espero inconsolável o dia da volta. O momento sonhado do reencontro. A hora em que vão me dizer que estás reaberto. Que saudade louca eu sinto de ti, Mineirão!