Semana passada, em um restaurante do Horto, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, colado no Jardim Botânico, o músico carioca Bernardo Botkay e sua namorada se levantaram da mesa em que jantavam, foram até onde Eduardo Paes, o prefeito da cidade, também comia com a esposa, e começaram a xingá-lo. Ficaram por ali, falando o que queriam com o político, por cerca de dois minutos. O termo mais recorrente dito pelo casal foi ‘seu bosta’. A brincadeira perdeu a graça e os dois voltaram para a própria mesa.
Ainda insatisfeitos com a reação do prefeito e com a
quantidade de impropérios que tinham falado até então, o músico e a namorada
voltaram ao posto e continuaram a atacar Eduardo Paes. Até que o político
chegou ao seu limite, perdeu a paciência e acertou dois socos no rosto de
Bernardo. Tudo sob os atentos olhares de uma preparada equipe de seguranças, é
bom que se diga.
Se os detalhes da confusão estão perfeitamente relatados ou
não é indiferente, porque não fugiu muito disso. Tomando como base o que Botkay
postou no Facebook, Paes divulgou através de sua assessoria e os relatos da
imprensa e da polícia, a história é praticamente esta. Aquele típico conto onde
não há mocinhos, heróis nem final feliz. Assim mesmo, triste, deprimente e
melancólico.
Não quero aqui fazer uma análise da vida pública de Eduardo
Paes. Simplesmente porque não vem ao caso. Tenho minha opinião formada sobre o
prefeito do Rio. Sei quem ele é, o que fez de bom e de ruim, quem são seus
amigos e seus inimigos, quais são seus planos políticos e do que ele é capaz
para atingir seus objetivos. Mas, repito, isto não é importante nesta passagem do
restaurante do Horto, ainda mais diante da reflexão que este texto quer propor.
Se desde o princípio, o ato de Bernardo Botkay pareceu
estúpido e infantil, no final das contas, confirmou tudo isto e acabou por fortalecer
a imagem de Eduardo Paes aos olhos da população. Sim, porque se o prefeito está
sendo visto por alguns como um homem impulsivo e violento, pela reação que
teve, também está sabendo se posicionar diante da mídia como uma vítima que
defendeu sua honra e protegeu a esposa diante de uma agressão gratuita em um
momento reservado. Ainda mais numa sociedade na qual os jovens não hesitam em expor
posições políticas de extrema direita, onde fazer justiça com as próprias mãos
é cada vez mais comum. Enfim, Paes deve agradecer a Botkay pela injeção de
popularidade que ganhou e que as próximas pesquisas de opinião vão confirmar. Imagina
a festa...
Agredir fisicamente – ou verbalmente – outro ser humano
nunca foi solução para nenhum problema na Terra. Ainda que você ache que o
outro mereça o castigo ou que se sinta realizado com o que fez. O dia seguinte
não demora muito a chegar e algumas perguntas óbvias não vão abandonar sua
cabeça.
- Valeu a pena? Alguma coisa realmente mudou? Eu me sinto
melhor com o que fiz?
Mas, se após todas as reflexões e respostas, você ainda
achar que atacar um político na mesa ao lado de um restaurante valha a pena,
que seja ele a deixar o lugar sangrando e não você.