sábado, 31 de março de 2012

Ave Maria da Rua

Eu não sou mãe. Por razões óbvias. E, mesmo que a ciência evolua milênios em segundos, a ponto de me permitir tal glória nos próximos anos, eu acho que não tenho o mínimo dom para exercer tão nobre e altruísta função.

Todas as vezes que você ouve alguém perguntar quem é a pessoa mais importante da sua vida, a resposta vem fácil, mesmo que você já tenha seus próprios filhos. A senhora sua mãe, dividida por um milhão, vale mais do que qualquer bilhão elevado à mais eterna potência. E ponto final, uai!

É muito fácil falar sobre o amor que se sente pelos amigos, pelos irmãos, por seu pai. Até falar do que você sente pela sua Natália é fácil, desde que seja verdadeiro. Eu mesmo já fiz isso 30 milhões de vezes aqui no Velho Ludopédio. Mas aqui... tentar esboçar o que você sente pela sua velha mãe... ah, amigo... vai tentando aí porque eu ainda não dei conta.

E como não consigo expressar meu gigantesco amor com minhas próprias palavras (ainda!), peço licença para usar as de um grande ídolo. Eu sei que Dona Júlia vai adorar.


Ave Maria da Rua

Raul Seixas / Paulo Coelho


No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração

Teu nome é Iemanjá
E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Oh, minha mãe
Minha filha, tu és qualquer mulher
Mulher em qualquer dia

Bastou o teu olhar
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós
Oh, oh!
Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar
A barra de te amar

Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas cada um nasceu
Com a sua voz,
Oh, oh!
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente

Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão
Me assustar
Oh, oh!

Minha mãe, nossa mãe
e mata minha fome
Nas letras do teu nome
Oh, oh!

Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Nas letras do teu nome
Oh, oh!

Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Na glória do teu nome.



segunda-feira, 26 de março de 2012

Final feliz

Tem uma coisa na minha vida de leitor e telespectador que é muito curiosa, pra não dizer engraçada. Toda vez que eu vejo um documentário ou um filme baseado em uma história real, eu torço para que o final seja diferente daquele que conheço e sei de cor há muitos anos. Mesmo sabendo que não vai adiantar nada.

Foi assim quando li a gigante biografia de 1000 páginas dos Beatles, escrita pelo americano Bob Spitz. Entre outras coisas que me deixaram agoniado, torci pro John Lennon não aceitar um convite pra visitar a exposição de uma certa artista plástica japonesa, que ele ainda não conhecia, em Londres. Talvez tudo tivesse sido diferente.

Torci também, ferrenhamente, diga-se de passagem, para que Garrincha não tomasse o primeiro gole de cachaça, ainda na sua infância, em Pau Grande, quando li Estrela Solitária, do Ruy Castro. E esta semana, revivi todo meu drama de tentar mudar o passado, ao assistir ao documentário sobre a vida de Raul Seixas no cinema. Só Deus sabe quantas vezes eu quis entrar na tela para mudar o destino do meu ídolo de infância...

Não pude deixar de comparar a situação com o futebol, e com as várias vezes em que torci para que o placar de uma partida que me fez sofrer fosse diferente, enquanto eu assisitia ao videotaipe.

Eu rezei para que tivessem marcado Paolo Rossi direito, pelo menos em uma das três vezes em que o italiano surgiu sozinho na frente do goleiro brasileiro. Senti culpa ao desejar que a maldita convulsão tivesse acometido Zidane, ao invés de Ronaldo, na final da Copa da França. E, como bom mineiro que sou, torci para que, ainda que em uma noite apenas, Zico tivesse sido traído pelo joelho operado, e Verón sofresse os males da gripe suína.

É claro que nunca fui feliz nos meus desejos de mudar o passado. Na verdade, isto não me frustra. Mas me serve de lição. Para tentar fazer com que meu presente e, consequentemente, o meu futuro, sejam, daqui a alguns anos, motivo de orgulho. E não algo que eu queria mudar dramaticamente, ao assistir ao VT.