sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A terceira lei de Newton

Se tem alguma coisa que eu gosto nesta vida é a sabedoria popular. Ela nunca erra. Assim como os conselhos de vó, as bulas de remédio e as leis da física. Todo ditado ou provérbio carrega em si décadas, séculos, milênios talvez, de bons conselhos.

"Água mole em pedra dura tanto bate até que fura" - ditado popular.

"Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos" - provérbio chinês.

"Um tolo e seu dinheiro são logo separados"
- provérbio inglês.


"Não saia neste tempo frio sem blusa, meu filho"
- conselho de vó.


"Não é recomendável misturar este medicamento com álcool"
- aviso de bula.


São muitos. E você pode segui-los ou não, claro. Seu livre arbítrio existe é para isso mesmo.

Mas, de todas as frases famosas ou não que a gente ouve durante a vida, a que mais me parece verdadeira é a terceira lei de Newton.

"A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em direções opostas"

Isaac Newton, obviamente, falava sobre a física, sua ciência, mais especificamente sobre movimentos dos corpos, energia e outras coisas que não vou explicar aqui porque não vem ao caso e porque eu não entendo bulhufas sobre o assunto. Resumindo: convencionou-se dizer que a terceira lei de Newton é algo mais ou menos assim: 'para toda ação há uma reação'. E que isto serve para todos os aspectos da sua vida.

Concordo plenamente, mesmo admitindo que na vida humana há diversas situações em que o acaso age implacavelmente, como num acidente ou doença, por exemplo. Por outro lado, existe aquele afortunado que ganha na loteria ou encontra o grande amor de sua vida perdido em uma esquina qualquer de uma cidade do interior.

Mas, enfim, quando as coisas seguem nas condições normais de temperatura e pressão, e o improvável não ataca, a tendência é que você tenha como reação tudo aquilo que foi feito na sua ação.

“A única coisa segura sobre a sorte é que ela mudará” - provérbio alemão.

Se você estudou muito para uma prova ou trabalhou arduamente num projeto, certamente tirará boa nota e terá bons resultados na empresa. Mas, se enrolou e adiou as ações, merecidamente vai tomar um ferro danado, tanto na escola como no trabalho.

É muito simples mesmo. Se sua dieta foi feita regularmente durante todo o ano, sua silhueta estará como a desejada no verão. E se você se entupiu de comida apimentada no jantar, é certo que vai sofrer na hora em que ela sair, mais cedo ou mais tarde, na solidão do banheiro.

"Tudo o que sobe, desce" - ditado popular. E também lei da física, mas com outro enunciado qualquer.

No futebol também é assim. Não tem como fugir. As equipes que melhor investem, planejam e contratam bons jogadores, fatalmente são que as que ganham os títulos mais importantes. É claro que o acaso é figura presente no esporte. O craque do time pode se machucar e resultados inesperados acontecem todos os dias. Mas é só olhar as tabelas e listas de campeões mundo afora pra ver que, no final, o mais organizado acaba vencendo mesmo.

Quando um dirigente some do clube e deixa seus problemas pessoais tomarem conta de sua vida, sem se importar com o que se passa na instituição, a tendência é que, abandonado, o time despenque pelas tabelas e dê vexame em campo. Pode ser que isto não aconteça, mas é muito difcil. E o futuro tenebroso tende a ser a reação para a ação que foi mal feita.

"Quem avisa amigo é" - ditado popular.

domingo, 6 de novembro de 2011

Aprender

Eu era menino ainda, não tinha nem 10 anos completos, mas já adorava os livros, filmes e revistas sobre futebol que caíam na minha mão. Lembro-me bem que eu só escrevia e falava sobre o assunto na escola. Na verdade, isto era uma coisa fenomenal, porque, se na teoria eu sabia tudo, na prática era terrível. Não conseguia dar um chute na bola e mandá-la na direção que queria. Tentava, tentava e era uma vitória quando conseguia ficar em pé após os bicudos.

Fui me aventurar no gol, como a maioria dos pernas-de-pau faziam, mas a latente miopia logo travou meus objetivos, já que tudo que ia na minha direção passava sem resistência, como se eu fosse uma peneira tapando o sol ou carregando água. Decidi então, aos 12 anos de idade, me dedicar ao futebol do lado de fora dos gramados, sem saber exatamente em que área iria me aventurar.

Restaram-me três caminhos. Eu poderia ser árbitro, técnico ou cronista esportivo. Não queria ser juiz porque sempre tive um carinho especial pela minha mãe. Nesta decisão, pesou também o problema das vistas fracas. Mesmo que, muitos dos que apitavam na época fossem cegos, eu não queria fazer parte da inglória trupe.

Ser treinador, portanto, era a minha profissão ideal! Na minha cabeça, eu já sabia tudo sobre táticas, posicionamentos e marcação por zona. Tinha lido os detalhes sobre o Uruguai de 1924, o Vasco de 1948 e a Holanda de 1974. Mas, quando me perguntaram como marcar um cara como Mané Garrincha ou fazer um gol no Lev Yashin, eu comecei a gaguejar e a suar. Pensei comigo mesmo:

- Maldade, pô. Sei tudo sobre futebol, mas também não é assim! Só tenho 13 anos!

O que me restou, então, foi ser cronista esportivo. Ainda decepcionado com meu fracasso em relação aos esquemas e regras do jogo, fui para um bar, no velho bairro da Renascença, em Belo Horizonte, sentei numa mesa escura num cantinho e pedi um conhaque. Puxei papo com uns gaiatos do lugar e comecei a contar casos de Neném Prancha e a citar crônicas de Nélson Rodrigues, como se as tivesse vivido bem de perto.

Não precisaram de mais do que dez minutos para me desmascarar. E mesmo que todos parecessem cruéis, o negócio era esse mesmo. Eu era um gaiato! Não sabia nada sobre futebol. Durante todo aquele tempo em que não conseguia jogar, sempre me preocupei mais em ensinar sobre o jogo que não conhecia e impressionar as pessoas do que em tentar aprender de verdade.

Enormemente decepcionado com o esporte que sempre amei, segui minha vida, me formei em direito, economia e engenharia civil. Nunca mais joguei bola, apitei um jogo real ou escrevi um artigo sobre alguma partida. Mas nunca deixei de acompanhar aqueles movimentos complicados que sempre tentei entender.

Só depois de passar tanto tempo longe da bola é que consegui perceber. E hoje posso ver tudo claramente. Futebol é uma das coisas mais simples da vida. Futebol é para ser aprendido, não explicado. Futebol, para pessoas como eu, é para ser vivido! E agora sim, tudo faz sentido!