Paulinho ganhou o apelido no diminutivo por ser xará do pai. O porte franzino e o fato de ser o primogênito também ajudaram. O guri reinou absoluto como único filho e neto até completar seis anos.
Até que chegou o Marcelão. O irmãozinho do Paulinho nasceu com quase quatro quilos, daí o aumentativo no nome do garoto. Mas, uma infecção hospitalar fez com que o Marcelão fosse pra casa miudinho e rodeado de cuidados. Enquanto isso, o Paulinho já estava forte como um bezerro, repleto de amor e mimos.
Assim cresceram os dois irmãos. O grandão com apelidinho e o pequenininho com apelidão. Paulinho e Marcelão foram crianças comuns, saudáveis, cheias de energia e vontade de brincar. Até que chegou a adolescência. Para o Paulo, já bonitão e vistoso para as meninas. O Marcelo parecia um ratinho, enfiado entre os livros e os brinquedos.
E foi aí que começaram os problemas do Paulinho. A mãe, Dona Zuleide, na melhor das intenções, queria que ele levasse o irmãozinho pra todo canto. Festas, bailes, horas dançantes do colégio, tudo, enfim. O Marcelão achava o máximo estar misturado com a galerinha mais velha, mas o Paulinho não via graça em nada daquilo. Afinal ele tinha que cuidar do irmão, enquanto podia estar cuidando e sendo cuidado por Simones, Anas, Paulinhas e Claudinhas da escola.
Cinema, showzinho de rock, violão na pracinha, reunião do grupo de jovens da igreja, qualquer coisa que o Paulinho quisesse fazer, só ia com o Marcelão a tiracolo. Dona Zuleide tinha trauma de ter visto o caçula sofrer tanto no berçário, mesmo que ele já tivesse a saúde de um potro, ainda que fosse tão pequenino. Paulinho não tinha outra escolha. Ou levava o Marcelão ou não ia. E assim ia tocando a vida e os momentos de lazer da adolescência.
Como toda história tem sua ironia, havia um lugar em que a Dona Zuleide proibia terminantemente a presença do Marcelão. E este era o único em que o Paulinho fazia questão de levar o irmão: o campo de futebol.
Não porque o Paulinho era rebelde. Muito pelo contrário. Mas simplesmente porque ir ao Mineirão não tinha a menor graça sem o little brother ao lado.
No estádio os dois eram um só. Dividiam como irmãos o mesmo grito, o mesmo abraço e o mesmo prato de feijão tropeiro. Passavam juntos na catraca, xingavam as mesmas pessoas e, sobretudo, comemoravam os mesmos gols. Os dois sabiam disso. Todo aquele espetáculo não fazia o menor sentido sem o outro do lado.
Paulinho e Marcelão hoje são adultos. Continuam indo ao Mineirão juntos, como sempre. O grande e o pequeno ainda se lembram bem. No estádio é que tudo era mais explícito. Mas o cinema, as festas, os shows, enfim, todos aqueles compromissos em que iam juntos por ordem de Dona Zuleide, não tinham o menor significado se um não estivesse ao lado do outro.
Para minha irmã Carla, aniversariante da semana
Emocionante e belissimo texto Marco.
ResponderExcluirJá divulgado no meu twitter.
Abraço Azul Estrelado.
Christian Marques
Ipatinga
@cmarquesmg
rsrsr
ResponderExcluirParabens Carla's