quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As irritantes peladas beneficentes

Nós adoramos criticar o estilo de vida dos jogadores de futebol. As roupas que eles usam, o modo como falam e a maneira como alguns administram suas carreiras. E, mesmo nos rasgando de inveja silenciosamente, damos um jeito de falar mal dos condomínios onde moram, dos carros que dirigem e até das mulheres que os acompanham. Vejam a que ponto chegamos nós, os invejosos.

Nesta época de fim de ano, então, nos esbaldamos.  Como é bom detonar as peladas beneficentes entre os Amigos do Neymar e os Primos do Ganso, entre os Vizinhos do Tardelli e os Conterrâneos do Wellington Paulista, ou entre os Cunhados do Diego Souza e os Companheiros do Fred!

É verdade que, de norte a sul do país, tem uma turma de bajuladores barrigudos participando desses jogos beneficentes. São amigos, agentes, empresários e jornalistas dispostos ao vexame de expor a redonda silhueta em troca dos 15 minutos de quase fama.

Isto sem falar na turma do pagode, do rap e do funk, que também está lá pra fazer seu comercial e jogar sua bolinha de fim de ano. O que é outro prato cheio pra turma que gosta de criticar. Porque não há Buarques, Velosos, Camelos nem Gadus nas festas que terminam regadas a chope e picanha da boa.

Mas vem cá, falando baixinho, só entre nós. O que é que tem de errado nisso? O que os boleiros estão fazendo de tão mal assim? Por que eles nos incomodam tanto com essas peladinhas beneficentes de fim de ano?

Até onde eu sei, todas elas são beneficentes mesmo. Um quilo de alimento não-perecível, exceto fubá e sal, trocado por um ingresso. Toneladas e toneladas de alimentos distribuídas Brasil afora, por causa dessa diversão de boleiro e pagodeiro que irrita tanta gente boa por aí.

Ah sim, não é bem por aí, nós vamos dizer. Porque não é só isso. Os jogadores querem mesmo é aparecer e tirar proveito político e econômico da situação, fingindo uma imagem de bons moços. A turma do pagode também, é claro. Mas e daí? Eles doaram alimentos pra muita gente necessitada, em vários cantos do país, na brincadeira deles de fim de ano. E nós, que criticamos e reclamamos tanto?

Será que cada um de nós teve a boa vontade de pegar a cartinha pro Papai Noel nos correios e fazer, pelo menos, uma criança desconhecida feliz?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Futurologia

A futurologia é a ciência que tenta antecipar o futuro. Cruzando dados, analisando tendências, somando números e detalhando acontecimentos do presente. Com isso, o que está por vir fica mais previsível, de uma forma ou de outra.

Vários políticos, economistas e empresários buscam na futurologia um elemento fundamental no planejamento cotidiano para o trabalho. Estão certos todos eles, claro. Tudo o que for útil para obter maiores lucros e acertos em quaisquer atividades profissionais é válido.

Mas o nosso negócio aqui é o futebol, que não é uma ciência exata, como todo mundo sabe. O futebol é um dos poucos jogos na vida onde o fraquinho ganha do fortão, mesmo sem ninguém explicar como. A história do esporte registra vários exemplos de Davis batendo Golias mundo afora. E por isso o Velho Ludopédio é tão fascinante.

Domingo passado. Final do Mundial Interclubes. Santos x Barcelona. No Japão.

Eu queria antecipar e entender perfeitamente a tática do Barcelona. Fazer a futurologia de quantos chutes daria Messi durante o jogo. De quantas tabelas fariam Xavi e Iniesta. E do tanto de vezes que Daniel Alves seria acionado por Fábregas pelo lado direito do campo.

Não pude e nem consegui, é óbvio. Se fosse tão fácil assim, Muricy Ramalho também saberia. E talvez o Santos tivesse vencido o jogo.

Eu torci pro Santos ganhar. Eu entendo muito pouco de futebol. E menos ainda sobre futurologia.  Só torço pras coisas e pros times que meu coração manda. E mesmo depois de passados alguns dias, e da derrota ainda mal-digerida, eu queria voltar o tempo e fazer o meu amigo Davi vencer o estranho Golias da Espanha.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Abstinência

Não tem jeito. Todo ano é a mesma coisa. Eu tenho essas crises entre dezembro e janeiro. Elas já se tornaram comuns e rotineiras na minha vida. Mesmo já sabendo que isto vai acontecer, eu não tenho como evitar.

Parece que me falta ar. Não tenho lugar. Nem assunto. A ansiedade me torna uma pessoa de convivência insuportável. Minhas mãos suam e tremem. Meus cabelos caem e o que me resta é dormir para esperar o tempo passar.

Já tentei tudo o que me indicaram para a cura. Sei que o primeiro passo na reabilitação é reconhecer o vício e partir para combatê-lo. Hipnose, acupuntura, musicoterapia, florais, enfim, nada adiantou. Sigo com meu problema e espero um dia ficar livre dele.

De uns tempos pra cá, inventaram o Brasileiro Sub-20 e a Future Champions, uma competição sub-17 pra lá de bacana, que, somadas com a Copa São Paulo de Juniores, já em janeiro, aliviam um pouco a dor. Mas mesmo assim, não é a mesma coisa.

Eu preciso de futebol! Futebol é meu oxigênio. Não tenho razões para levantar da cama se não tiver futebol pra eu ver. Não tenho assunto.  As palavras me faltam. Reconheço que fico ainda mais chato do que já sou.

Os torneios das categorias de base me ajudam muito, sem dúvida. Os campeonatos europeus, que não param durante esta época de fim de ano, também. Mas o que eu gosto é de adrenalina. De torcer pra alguém ganhar ou perder. O que importa mesmo, ao fim de tudo, é fazer contas olhando o saldo de gols dos adversários. O saldo de gols é a equação matemática mais perfeita de todos os tempos.

Peço mil desculpas por compartilhar um problema tão grave e íntimo com vocês. E agradeço a paciência por me ouvirem. Mas, deixa quieto, que tá começando Parauapebas x Ananindeua, pela primeira fase do Campeonato Paraense do ano que vem. Isso mesmo, do ano que vem!

Ah... pobres de vocês que não gostam de futebol...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Memória


A memória humana é uma das coisas que mais me impressiona na vida, desde menino. O quanto ela pode armazenar de informações, a intensidade das lembranças que guarda, e de que maneiras diferentes estas recordações são acionadas, quando preciso.

Para algumas pessoas basta um cheiro, um leve perfume apenas, e um leque vivo se abre na memória. Detalhes de momentos vividos, nomes, rostos, histórias de vida. Acontece também com o paladar. Um gosto guardado no fundo das papilas gustativas recria lugares, situações, e traz de volta pessoas já apagadas em nossa existência mental.

O oposto também é corriqueiro, infelizmente. A danada da memória nos trai, e o nome de um velho conhecido foge na hora certa. Uma analogia inteligente, um caso engraçado pra contar naquele momento exato, enfim. Essas coisas passam voando pela cabeça e tentar resgatá-las, às vezes, é mais frustrante do que simplesmente deixar pra lá.

É assim com tudo mundo, imagino. Eu mesmo. Sei de cor o ano em que cada banda que gosto lançou os seus discos. Lembro-me dos artilheiros das principais competições do futebol mundial, desde os primórdios. Sei o nome de todas as minhas professoras e colegas de sala desde que comecei a estudar. Sou praticamente um fenômeno!

Mas, por outro lado, às vezes erro caminhos que faço diariamente. Esqueço a grafia de palavras que uso desde os 12 anos de idade. E nem tenho ideia do que fiz na tarde de quinta-feira da semana passada. Mesmo sem ter bebido uma gota de álcool. Sou realmente uma besta!

Nem um nem outro, é claro. Nossa memória é assim mesmo. Chata e seletiva. Por várias e indefinidas razões, seleciona o que quer e o que não quer guardar. Ou não precisa guardar.

Então não esquenta. Se alguém passou por você na rua e não te cumprimentou, pode ser que não tenha se lembrado de você. Mas também pode ser que não. Talvez este alguém simplesmente tenha te ignorado. E isto pode ser sinal de sorte! Há o outro lado, evidentemente. Você pode fazer a mesma coisa, se quiser. Pode fingir que não se lembrou de uma pessoa, daquelas bem chatas. E quem vai provar que não se lembrou mesmo? É culpa da memória...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Pará e nós


Os paraenses recusaram a proposta de dividir o estado em três, num plebiscito realizado este fim de semana. Seriam criados os estados de Carajás e Tapajós, mas dois terços da população rechaçaram a ideia.

Não vou discutir a política e a economia envolvidas no polêmico assunto. Não tenho conhecimento, competência e nem estudo para isto. Só acho que as siglas dos novos estados seriam CA e TA né?

Também não vou falar sobre o que isto mudaria no futebol. Imagino que seriam mais duas vagas na Copa do Brasil e na Série D do Campeonato Brasileiro. Série D que, por sinal, já foi conquistada por um time do glorioso estado – não fundado – de Tapajós, com o São Raimundo, em 2009, ao bater o Macaé-RJ, na final.

O que não entendo é o porquê de dividir um estado brasileiro em três, enquanto as fronteiras entre os países estão ficando, a cada dia, mais fáceis de serem cruzadas.

Temos a sensação de saber o que acontece em qualquer lugar do mundo, em tempo real e numa linguagem acessível a todos. Lutamos para diminuir as diferenças e atritos entre religiões, nacionalidades e etnias. Isto, sem deixar de preservar a identidade de cada uma. E mesmo que a gente falhe em boa parte dos casos, a sensação de estar brigando por um mundo sem fronteiras, diferenças e guerras é válida e reconfortante.

Vai ser bom ter o Águia, de Marabá, o São Raimundo, de Santarém, e o Paysandu, a Tuna Luso e o Remo, de Belém, na Série A do Brasileirão, num futuro próximo. E vai ser bom também ver o estado do Pará unido e forte, sob uma mesma bandeira. Mas vai ser melhor ainda ver o mundo todo sem divisões e fronteiras, com todos se respeitando e se ajudando. Sob a mesma bandeira branca da paz.


Dedicado ao amigo Mário Marra e inspirado em seu blog, que sempre leio e recomendo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Festas de fim de ano

Eu gosto muito dessas festas de fim de ano. São boas oportunidades para rever alguns amigos e bater papo com quem a gente convive pouco no dia-a-dia, por causa da correria da vida. Tem também a comilança e os gorós que a gente toma, e às vezes se arrepende do tanto, no dia seguinte. Mas tudo bem, todo ano é a mesma coisa.

São juras de amizade eterna e promessas de não deixar a distância tomar conta no ano que vem, como tomou este ano. No fundo, todo mundo sabe que vai ser do mesmo jeito, mas é bom abraçar um amigo e comemorar as realizações deste ano e brindar os projetos do próximo, com a certeza de repetir tudo isto daqui a doze meses.

Os preparativos para os comes e bebes também são um capítulo a parte. Nas festas das empresas, tá tudo certo. Fica por conta da turma que teve a coragem de organizar a bagunça. Ou da que o RH mandou que organizasse. Mas quando a reunião é daquela rapaziada das antigas, não tem jeito. Cada um faz e leva o que vai alimentar o turbilhão de famintos e sedentos.

E não tem jeito. Haja assunto, conversa fiada, projetos a realizar e pedidos de perdão. Enfim, todas as roupas sujas são lavadas nestas festas. E perus assados, garrafas de vinho, rabanadas, cervejas, e por aí vai. Cada um curte como quer.

O que eu não me permito é fazer concessões nestas festas. Quem não foi meu amigo durante toda a vida, não vai ser agora, na hora da bebedeira e do apagar das luzes do ano. Não vou sorrir, abraçar e nem dar tapinhas nas costas de quem eu não gosto. De mau caráter. De gente pilantra. Sem chance. Se toda a energia de fim de ano pode parecer falsa nas festas que a gente tem que ir forçadamente, em todos os dezembros, ela não vai ter a contribuição das minhas mentiras.

Eu até posso estar sendo radical, insensível, ou pouco político, na definição mais light. Mas prometo pra mim mesmo que todo abraço e voto de fim de ano que eu fizer pra alguém será sincero, honesto e desejado do fundo do meu coração. Os picaretas que se danem!



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Meu querido, meu velho, meu amigo

Oi! Peço licença a você que me lê agora para uma pequena explicação, antes do começo da leitura. Este deve ser o milésimo texto que eu escrevo dedicado ou mencionando o meu pai aqui no Velho Ludopédio.  Desculpe-me, do fundo do coração, se é frustrante dizer que não há nenhuma relação super complexa ou raivosa entre mim e o velho. Nenhuma briga histórica, reconciliação entre lágrimas. Nada de distância involuntária, algum êxodo por causa de trabalho, guerra civil, nada disso! Então, vamos lá...

A grande e absoluta verdade é que meu melhor amigo e maior ídolo de todos os tempos é o meu velho pai! E que este texto, perdido entre tantos outros, é só pra dizer isto mesmo.

Entre as tantas coisas erradas que já fiz na vida, não estão incluídas mágoas e ofensas ao meu pai. Sou um afortunado por isso. Iluminado e abençoado por Deus, sempre tive a capacidade e o discernimento de ouvir os conselhos que vinham do meu coroa.

O negócio é que agora chegou a hora de construir a minha própria família. Então, eu peço a Deus pra manter o Super Astoni aqui ao meu lado, por mais alguns bons e longos anos. Porque mesmo que o velho erre e tropece nos caminhos da vida, ele nunca vai deixar de ser ‘meu querido, meu velho e meu amigo’. Como diria o rei Roberto.

Eu vou abraçar meu pai agora. A coisa mais gostosa da vida é apertar meu melhor amigo junto ao meu peito.  

Se o seu velho pai está aí perto de você, não deixe de fazer o mesmo. Se não está, reze pra ele e agradeça por tudo o que ele te fez. A mim, só resta sorrir e pedir a Deus para ter muito mais tempo ao lado do meu querido, do meu velho, do meu amigo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A terceira lei de Newton

Se tem alguma coisa que eu gosto nesta vida é a sabedoria popular. Ela nunca erra. Assim como os conselhos de vó, as bulas de remédio e as leis da física. Todo ditado ou provérbio carrega em si décadas, séculos, milênios talvez, de bons conselhos.

"Água mole em pedra dura tanto bate até que fura" - ditado popular.

"Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos" - provérbio chinês.

"Um tolo e seu dinheiro são logo separados"
- provérbio inglês.


"Não saia neste tempo frio sem blusa, meu filho"
- conselho de vó.


"Não é recomendável misturar este medicamento com álcool"
- aviso de bula.


São muitos. E você pode segui-los ou não, claro. Seu livre arbítrio existe é para isso mesmo.

Mas, de todas as frases famosas ou não que a gente ouve durante a vida, a que mais me parece verdadeira é a terceira lei de Newton.

"A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em direções opostas"

Isaac Newton, obviamente, falava sobre a física, sua ciência, mais especificamente sobre movimentos dos corpos, energia e outras coisas que não vou explicar aqui porque não vem ao caso e porque eu não entendo bulhufas sobre o assunto. Resumindo: convencionou-se dizer que a terceira lei de Newton é algo mais ou menos assim: 'para toda ação há uma reação'. E que isto serve para todos os aspectos da sua vida.

Concordo plenamente, mesmo admitindo que na vida humana há diversas situações em que o acaso age implacavelmente, como num acidente ou doença, por exemplo. Por outro lado, existe aquele afortunado que ganha na loteria ou encontra o grande amor de sua vida perdido em uma esquina qualquer de uma cidade do interior.

Mas, enfim, quando as coisas seguem nas condições normais de temperatura e pressão, e o improvável não ataca, a tendência é que você tenha como reação tudo aquilo que foi feito na sua ação.

“A única coisa segura sobre a sorte é que ela mudará” - provérbio alemão.

Se você estudou muito para uma prova ou trabalhou arduamente num projeto, certamente tirará boa nota e terá bons resultados na empresa. Mas, se enrolou e adiou as ações, merecidamente vai tomar um ferro danado, tanto na escola como no trabalho.

É muito simples mesmo. Se sua dieta foi feita regularmente durante todo o ano, sua silhueta estará como a desejada no verão. E se você se entupiu de comida apimentada no jantar, é certo que vai sofrer na hora em que ela sair, mais cedo ou mais tarde, na solidão do banheiro.

"Tudo o que sobe, desce" - ditado popular. E também lei da física, mas com outro enunciado qualquer.

No futebol também é assim. Não tem como fugir. As equipes que melhor investem, planejam e contratam bons jogadores, fatalmente são que as que ganham os títulos mais importantes. É claro que o acaso é figura presente no esporte. O craque do time pode se machucar e resultados inesperados acontecem todos os dias. Mas é só olhar as tabelas e listas de campeões mundo afora pra ver que, no final, o mais organizado acaba vencendo mesmo.

Quando um dirigente some do clube e deixa seus problemas pessoais tomarem conta de sua vida, sem se importar com o que se passa na instituição, a tendência é que, abandonado, o time despenque pelas tabelas e dê vexame em campo. Pode ser que isto não aconteça, mas é muito difcil. E o futuro tenebroso tende a ser a reação para a ação que foi mal feita.

"Quem avisa amigo é" - ditado popular.

domingo, 6 de novembro de 2011

Aprender

Eu era menino ainda, não tinha nem 10 anos completos, mas já adorava os livros, filmes e revistas sobre futebol que caíam na minha mão. Lembro-me bem que eu só escrevia e falava sobre o assunto na escola. Na verdade, isto era uma coisa fenomenal, porque, se na teoria eu sabia tudo, na prática era terrível. Não conseguia dar um chute na bola e mandá-la na direção que queria. Tentava, tentava e era uma vitória quando conseguia ficar em pé após os bicudos.

Fui me aventurar no gol, como a maioria dos pernas-de-pau faziam, mas a latente miopia logo travou meus objetivos, já que tudo que ia na minha direção passava sem resistência, como se eu fosse uma peneira tapando o sol ou carregando água. Decidi então, aos 12 anos de idade, me dedicar ao futebol do lado de fora dos gramados, sem saber exatamente em que área iria me aventurar.

Restaram-me três caminhos. Eu poderia ser árbitro, técnico ou cronista esportivo. Não queria ser juiz porque sempre tive um carinho especial pela minha mãe. Nesta decisão, pesou também o problema das vistas fracas. Mesmo que, muitos dos que apitavam na época fossem cegos, eu não queria fazer parte da inglória trupe.

Ser treinador, portanto, era a minha profissão ideal! Na minha cabeça, eu já sabia tudo sobre táticas, posicionamentos e marcação por zona. Tinha lido os detalhes sobre o Uruguai de 1924, o Vasco de 1948 e a Holanda de 1974. Mas, quando me perguntaram como marcar um cara como Mané Garrincha ou fazer um gol no Lev Yashin, eu comecei a gaguejar e a suar. Pensei comigo mesmo:

- Maldade, pô. Sei tudo sobre futebol, mas também não é assim! Só tenho 13 anos!

O que me restou, então, foi ser cronista esportivo. Ainda decepcionado com meu fracasso em relação aos esquemas e regras do jogo, fui para um bar, no velho bairro da Renascença, em Belo Horizonte, sentei numa mesa escura num cantinho e pedi um conhaque. Puxei papo com uns gaiatos do lugar e comecei a contar casos de Neném Prancha e a citar crônicas de Nélson Rodrigues, como se as tivesse vivido bem de perto.

Não precisaram de mais do que dez minutos para me desmascarar. E mesmo que todos parecessem cruéis, o negócio era esse mesmo. Eu era um gaiato! Não sabia nada sobre futebol. Durante todo aquele tempo em que não conseguia jogar, sempre me preocupei mais em ensinar sobre o jogo que não conhecia e impressionar as pessoas do que em tentar aprender de verdade.

Enormemente decepcionado com o esporte que sempre amei, segui minha vida, me formei em direito, economia e engenharia civil. Nunca mais joguei bola, apitei um jogo real ou escrevi um artigo sobre alguma partida. Mas nunca deixei de acompanhar aqueles movimentos complicados que sempre tentei entender.

Só depois de passar tanto tempo longe da bola é que consegui perceber. E hoje posso ver tudo claramente. Futebol é uma das coisas mais simples da vida. Futebol é para ser aprendido, não explicado. Futebol, para pessoas como eu, é para ser vivido! E agora sim, tudo faz sentido!

domingo, 30 de outubro de 2011

Sigam o exemplo do futebol

As redes sociais se tornam, a cada dia, mais importantes em nossas vidas. As distâncias físicas estão ficando maiores, por causa da correria louca do dia-a-dia, dos inúmeros compromissos cotidianos e do trânsito intenso nas grandes cidades, enquanto as virtuais praticamente não existem mais, já que as pessoas estão conectadas 24 horas por dia.

Isto mudou nossos hábitos. Dos primitivos ICQ e Yahoo Messenger, passando pelo vovô Orkut até chegar aos contemporâneos Facebook e Twitter, tivemos que começar a levar as coisas mais a sério. Sim, porque nossos contatos reais com os amigos de verdade são cada vez mais feitos pela via virtual. Portanto, ser você mesmo, sem máscaras e mentiras, é quase uma obrigação pra quem quer ser levado a sério.

Mas, não quero fazer aqui uma tese sobre as redes sociais. Não tenho conhecimento, competência nem estudos para isso. Quero falar sobre uma coisa que está me incomodando muito nos últimos dias. A forma como muitos estão tratando o câncer do ex-presidente Lula na Internet. Alguns amigos próximos, inclusive.

Valho-me do meu velho ludopédio para tentar ser mais claro. Sigam o exemplo do futebol!

Dois jogadores dos dois maiores rivais de Minas Gerais passaram por delicados problemas de saúde na família, muito recentemente. O goleiro Renan Ribeiro, do Atlético-MG, perdeu a irmã de 15 anos, Bianca, vítima de um câncer. O filho do meia argentino Montillo, do Cruzeiro, Santino, tem um ano de idade, é portador da síndrome de down, e já passou por quatro delicadas cirurgias, uma delas no coração.

Nos dois casos, as torcidas se mobilizaram nas redes sociais e fizeram campanhas de apoio aos respectivos ídolos. E o mais interessante é que cruzeirenses respeitaram a dor de Renan e atleticanos deram força a Santino e Montillo. Esqueceram o detalhe mínimo da rivalidade e se uniram em torno do que é mais importante, o ser humano. É claro que há os imbecis. Mas, eles foram raríssimos nas redes sociais, onde imperou o bom senso e o sentimento de fraternidade e respeito.

O caso do técnico Ricardo Gomes também é recente. O treinador teve um grave problema à beira do gramado, num Vasco x Flamengo, ficou em situação delicadíssima e sua recuperação foi comemorada por todas as torcidas no Brasil, com mensagens de apoio de todos os cantos.

Não quero dizer aqui que o futebol é um exemplo de paz e maturidade dos povos. Nada disso. A cada fim de semana, torcedores se degladiam nos estádios mundo afora, não se importando com nenhum tipo de lei. Mas a pauta aqui é rede social. E nelas foi mantida a civilidade. Pelo menos nos casos de Renan Ribeiro, Montillo e Ricardo Gomes.

Volto agora ao caso do Lula. Tentarei ser imparcial no tema, já deixando clara a admiração e respeito que tenho por ele, pra mim o maior presidente da história do Brasil. Mas sei reconhecer que, se ele tirou 23 milhões da pobreza no país, foi conivente com a corrupção no seu primeiro mandato. Portanto, o debate aqui não é político. É humano. Falaria o mesmo sobre FHC, Itamar Franco ou José Sarney. Quem me acompanha nas redes sociais sabe que, mesmo sendo campeão em piadas sem graça, não brinco com a dor dos outros. Jamais!

Fazer piada com o câncer de Lula ou desejar sua morte numa rede social é inadmissível pra mim. É de mau gosto. Não importa se você não vota nele, não gosta dele ou, pior, está simplesmente se divertindo.

Longe de mim querer censurar uma opinião nas minhas timelines. Não posso e não quero. Mas tenho o pleno direito de não tolerar a convivência de quem deseja que qualquer pessoa morra ou sofra. Virtual ou pessoalmente. Nem no mundo do futebol, tão criticado por tantos, as coisas são assim hoje em dia.

Sigam o exemplo do futebol! Se os torcedores xingam e ofendem nas redes sociais, também sabem ser solidários e humanos, quando é preciso e o caso é mais sério. Força Renan Ribeiro! Fuerza Santino! E melhoras para o presidente Lula!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Recomeçar

Diego ouviu uma frase de seu pai, há muito tempo, que marcou sua vida. Ele tinha uns cinco ou seis anos, no máximo, e o que o pai disse, meio em tom de brincadeira, ficou marcado na cabeça do garoto para sempre.

- Um homem de verdade tem que plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.

Não que aquilo tivesse se tornado uma obsessão para o jovem Diego, mas, de tempos em tempos, ele se lembrava da voz tranquila do seu velho repetindo o tripé das missões masculinas no planeta. Na verdade, era uma frase conhecida e falada em todos os cantos. Mas o dito, mesmo que não parecesse uma tarefa tão difícil assim, às vezes tirava o sono do moleque.

Ele, então, tratou de preparar o terreno para cumprir suas obrigações de homem, ainda que não pudesse realizar todas ao mesmo tempo. Diego tinha 15 anos àquela época, e plena consciência de que não era hora de ter um filho. Mas, as questões da árvore e do livro tinham como serem resolvidas.


***


Para tanto, chamou um velho amigo. Velho mesmo. No sentido literal da palavra. Seu Pedrinho da Feira já tinha passado dos 80, mas isto não o impedia de manter com o jovem Diego uma amizade muito especial.

O antigo professor de literatura dos pais de Diego indicava livros e discos para o garoto que, entre as peladas e brincadeiras com os netos de Seu Pedrinho, ensinava o companheiro a jogar War. É isso mesmo! Seu Pedrinho adorava o jogo de tabuleiro, que o lembrava as guerras mundiais que tinha acompanhado pelo rádio e pelos jornais de sua época.

Assim sendo, ficou fácil. Seu Pedrinho arranjou umas sementes de goiabeira e Diego logo escolheu um cantinho no terreiro da casa do amigo para plantar sua árvore. Selecionaram, com cuidados militares, um lugar estratégico, entre Aral e Omsk, e a goiabeira logo foi tomando corpo de árvore decente.

Com o livro foi um pouco mais complicado, mas nada que os dois não dessem conta de resolver. Diego escrevia poesias e crônicas sobre seu cotidiano e Seu Pedrinho ia juntando tudo, corrigindo uma coisa aqui e outra ali, até que o catatau contabilizou mais de 400 páginas.


***


O tempo passou e Diego se formou em jornalismo. Virou correspondente de uma revista brasileira em Londres. Passou seis anos na Inglaterra. Sem nunca se esquecer das suas promessas. Faltava o filho, é claro!

Conheceu uma francesa. Linda, inteligente, divertida. Tudo aquilo que Diego sonhava e imaginava em uma mulher. Pensava que com ela teria o filho que completaria a vida do casal e sua missão na Terra. Telefonou para contar a novidade para Seu Pedrinho. Mas, no mesmo dia em que ficou sabendo da morte do melhor amigo, a namorada francesa foi embora com um marroquino. E o que restou para Diego foi voltar para o Brasil.

Chegando em casa, percebeu que sua tristeza ainda poderia aumentar, ao ver que a chácara do velho companheiro Pedrinho havia sido demolida. Junto com sua goiabeira. Os manuscritos do livro também se perderam. Ninguém dava notícia do baú de Seu Pedrinho, que, consumido pelo Alzheimer, já não falava coisa com coisa, antes da morte.


***


Enquanto separava, com os dedos preguiçosos, umas sementes de goiabeira que tinha acabado de comprar, Diego olhava, da janela da casa dos pais, as máquinas que construíam um edifício gigante onde antes era a casa de Pedrinho da Feira. Não sentia nenhum tipo de nostalgia ou algo semelhante. Estava feliz por ter sido leal com o amigo durante todo o tempo em que conviveram. Pensava no futuro. E imaginava o conteúdo e o título do novo livro que ia escrever. E, ainda que não tivesse cabeça pra pensar nessas coisas naquela hora, sabia que ia encontrar a garota certa pra ter o filho que tanto queria. O negócio é esse mesmo, como tantas vezes tinha lhe dito Seu Pedrinho:

-Paciência pra conquistar a Oceânia, entrando lá por Vladisvostok. E estratégia pra recomeçar!



Para meu amigo Diego Vidal, que tantas vezes nesta vida teve que recomeçar.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O bolero do pênalti perdido - parte III

Fernando tem quarenta e poucos anos e adora seu futebolzinho de fim de semana. Bom de bola, casado, pai de duas filhas, sempre jogou suas peladinhas e disputou campeonatos amadores na várzea e na empresa. Mas, como fez isso desde sempre, nunca deu valor diferente ao rotineiro futebol com os amigos.

Até que seu filho caçula, Mateus, nasceu. O garoto cresceu e passou a acompanhá-lo pelos campos da cidade, sob chuva ou sol, sempre achando aquilo a coisa mais fantástica do mundo. Assim, as peladas ficaram especiais para o pai. Claro, porque agora ele tinha o mais querido dos fãs a torcer e vibrar com as aventuras do paizão peladeiro.

O negócio é que Mateus é um garoto danado. Inteligente, inquieto e muito exigente com os números e estatísticas do pai em campo. Como não se dava bem com as outras crianças, ficava com um caderninho, à beira do gramado, anotando tudo o que se passava nos jogos. Sabia de cor a quantidade exata dos gols feitos e perdidos, passes certos e errados, faltas sofridas e recebidas, cartões amarelos e vermelhos do pai desde a primeira vez em que o acompanhou numa pelada de fim de semana.

Mariana, a mãe, foi contra as idas para os campos, no começo. Queria proteger o filho o tempo todo. Temia que a agressividade do pequeno Mateus com as outras crianças e a sua dificuldade em se comunicar com os adultos lhe trouxessem problemas. Encorajada pelos médicos, deixou Mateus partir com Fernando, certa de que a cumplicidade dos dois e a idolatria que o filho tinha pelo pai faria com que tudo corresse bem. Ainda que seu coração de mãe ficasse receoso e apertado a cada saída de casa.

Mas, no final das contas, ela acertou em encorajar a vontade do filho. Ainda que, no princípio, as pessoas estranhassem a pequena figura que dispensava carinhos e conversas com estranhos, o bravo Mateus se deu bem no ambiente esportivo dos clubes e campos de várzea de Belo Horizonte. O jeito peculiar de gesticular, estranho para a maioria, acabou se tornando rotina por onde Fernando jogava, e Mateus virou uma espécie de mascote do time da empresa.

E então, chegou o dia da final do campeonato. Mateus, que sempre detalhava para Fernando tudo sobre o adversário, antes dos jogos, desta vez foi além. Pediu para o pai a medalha de ouro, caso o time fosse campeão. O pai, obviamente, concordou com o pedido, deu o beijo de sempre no filho e partiu para o jogo. A partida terminou empatada e foi para a cruel decisão por pênaltis. O destino fez com que Fernando batesse o último. Mateus, sentado no banco de reservas, gesticulava freneticamente para que o pai não chutasse no canto direito do goleiro adversário.

Foi exatamente o que Fernando fez, e o time de coração do pequeno Mateus teve que se contentar com o vicecampeonato. Pai e filho não ficaram no clube após o jogo, como costumeiramente faziam todos os domingos. Fernando chegou em casa, colocou um bolero baixinho no empoeirado toca-discos, serviu-se de um whisky sem gelo e ficou lamentando, pra si mesmo, a medalha de ouro que não conseguiu dar para o filho. Mariana ficou preocupada com a cena e tentou falar com o marido. Foi contida por Mateus, que disse pra mãe, com um ar de sabedoria e tranquilidade.

- Liga não, mãe. O pai tá triste porque não sabe bater pênaltis.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Lições da bola e de amor em Paris

Por Marco Soalheiro*


Era o penúltimo dia da primeira viagem de ambos à Europa. Um sonho adiado por muito tempo por prioridades mais urgentes da vida. Naquela noite, na romântica e bela Paris, ele poderia levá-la para jantar em um bistrot requintado, flanar sem rumo pelas ruas aconchegantes, passear de barco pelo rio Sena, ouvir um jazz.  Mas resolveu arriscar, sabedor do privilégio de ter ao seu lado uma mulher plenamente convicta de que futebol é muito mais do que 11 marmanjos a disputar uma bola. França e Bósnia Herzegovina, valendo vaga na fase final da Eurocopa, foi o programa com convite prontamente aceito. No pacote, metrô, trem e lanches menos nobres de porta de estádio.

A presença maciça de bósnios, dois dias antes do jogo nas ruas de Paris, impulsionou a decisão do casal. Além disso, a oportunidade de conhecer o Stade de France, de triste memória para o futebol brasileiro, derrotado pelos anfitriões na final de Copa de 1998.

Ao primeiro passo no anel superior, foram arrebatados por uma imagem surpreendente. Quase um terço do imenso estádio estava ocupado por animada massa de bósnios vestidos de azul e amarelo, prontos para empurrar sua seleção rumo à vitória necessária à classificação. Homens, mulheres, jovens, crianças e idosos. Gente que cantou seu hino a plenos pulmões e que desafiou sua inferioridade numérica para bradar mais alto em 90 minutos. Um show de arrepiar quem passou parte dos últimos 20 anos nos palcos do velho ludopédio. Aquele pequeno país do leste europeu, desmembrado da antiga Iugoslávia, que há 15 anos era devastado por  uma sangrenta guerra separatista, enchia de orgulho sua gente pela braveza e o talento de seus atletas. A beleza do esporte em estado puro e a conquista de mais dois torcedores que não tiveram nenhum pudor em sua escolha. Pediram bandeira emprestada, vibraram e sofreram juntos.

Noventa minutos, um gol para cada lado e o sonho bósnio, sob aplausos, foi adiado para a repescagem contra Portugal. Debaixo de chuva fina, o casal de brazucas que fez do futebol seu programa noturno na capital francesa regressava ao hotel. Lembraram-se que, assim como a seleção herzegovina, viveram há poucos meses a sensação de ver escorrer por entre os dedos uma conquista tão desejada, que em seus corações já era real. Mas a experiência que presenciaram reforçou-lhes a certeza: é a fé, a esperança e a luta que fazem a vida valer pena. Sentiram-se revigorados para seguir em busca do que tanto desejam.  Era meia noite em Paris. Momento mais propício impossível para  juras de amor eterno e beijos apaixonados.


* Marco Soalheiro é jornalista. Nascido em Divinolândia (MG), é marido, torcedor e cidadão apaixonado. Trabalha na TV Assembleia, em Belo Horizonte, além de ser parceiro indispensável pra boas resenhas ludopédicas.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Os picaretas

Outro dia, viajando pro Rio de Janeiro, encontrei um velho parceiro de futebol na sala de embarque do aeroporto. Ele estava no mesmo voo que eu, coincidentemente, e nos sentamos lado a lado, pra prosear um pouco e relembrar os velhos tempos. Nós jogamos juntos em um time de futebol amador, a Portuguesa, do bairro da Saudade, zona leste de Belo Horizonte, no começo dos anos 1990. A lembrança dele era bem viva em mim porque foram quatro anos na Lusinha. Mas o nome do caboclo não surgia de jeito nenhum. Então, a solução óbvia e mais prática era chamá-lo pelos escapes tradicionais: amigão, parceiro, chegado, meu zagueiro, essas embromações típicas de quem esqueceu o nome do outro.

No começo não me assustei muito porque confiava no potencial da minha memória. Mas o tempo foi passando, chamaram o voo e pensei que ia ganhar do problema por W.O., já que a distância nos separaria assim que embarcássemos. Só que aí o avião vazio permitiu que o ‘amigão’ se sentasse ao meu lado pra continuar o papo e minha tortura pessoal.

O pior era que o danado tinha uma memória do cão! Contava histórias da Lusinha com riqueza de detalhes. Lembrava dos técnicos, das jornadas heróicas em clubes da cidade e de algumas vezes em que saímos corridos de campos barra pesadas da periferia de BH. O papo rolava, o avião já estava bem lá em cima, e nada de lembrar o nome do ‘campeão’.

Quando ele falou o meio-campo do nosso time, em um jogo em que enfrentamos os juniores do América Mineiro, num dia de glória para o bairro, eu praticamente desisti:

- Lembra, cara? Zé Maria, Goiaba, Dudu e Paulinho. Você fez um gol esse dia e perdeu um pênalti. Minha memória não falha. Eu fui expulso no finalzinho, mas a gente ainda ganhou um trofeuzão todo bacana, de mais de um metro de altura.

Caçarola! Era isso mesmo. Até o pênalti que chutei pra fora o sacana recordou. Finalmente chegamos ao Rio e mais uma coincidência nos fez passar mais tempo juntos. Ambos iríamos esperar pessoas que nos buscariam no aeroporto. Eu, uma van do trabalho, e ele, a esposa, que estava na cidade desde a semana anterior. Sentamos num café até esperar a hora certa de sair.

Foi então que finalmente tive um lampejo nas ideias e a sorte facilitou meu trabalho.  Lembrei do velho Orkut, site de relacionamentos meio em desuso atualmente. Liguei o computador, com a tela longe dele, fingi que olhava o endereço do hotel, e logo, através de amigo em comum, achei a página do ‘chegado’. Vi o nome e logo me lembrei dos apelidos, do endereço, da profissão. Era a fagulha que o cérebro precisava pra ligar.

Marcinho cabeção! Como eu poderia me esquecer? Grande beque central. Batia até na mãe se a Portuguesa da Saudade precisasse de uma vitória importante. Quando comecei a chamá-lo pelo nome verdadeiro, alguma coisa nos olhos dele mudou. Marcinho ficou meio sem graça, mudando o assunto pra coisas impessoais e fingindo pressa, ao olhar insistentemente o relógio.

Só então eu percebi. Ele só havia me chamado de cara, companheiro, gente boa e coisas parecidas. Era óbvio.

- O picareta também não se lembrava do meu nome!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Neymar e nós

Atlético-MG e Santos jogaram na Arena do Jacaré, na noite de ontem, pelo Campeonato Brasileiro da Série A. O Galo venceu por 2 a 1, e o atacante Neymar, do Santos, foi expulso, já no final do jogo, por reclamar e ironizar o árbitro da partida. Foi repreendido no vestiário pelo técnico Muricy Ramalho, de forma tão veemente, que deixou o estádio chorando muito.

Eu estava na cobertura do jogo. Depois da partida, me posicionei perto da saída dos jogadores do Atlético, fazendo meu trabalho rotineiro, de entrevistar os atletas e tirar fotos. Cumpri meu trabalho normalmente, como em todas as partidas. Foi quando Neymar saiu do vestiário do Santos, cercado por seis seguranças gigantescos. Truculentos, como boa parte dos seguranças, não todos, claro.

Os guarda-costas foram abrindo caminho com empurrões para escoltar o jogador até o ônibus do Santos. Vendo a desnecessária cena, já que não havia tumulto na porta da Arena do Jacaré, alguns jornalistas - eu, inclusive - fizeram comentários sobre o que viam e sobre Neymar. Coisas do tipo:

- Que cara mala!

- Mas que bosta, pra que isso tudo?

Concordo plenamente que não é nosso papel comentar saída de atletas do estádio, muito menos em voz alta. Não estamos ali pra isso. Mas, de forma alguma, o que fizemos foi provocativo. Prova disso é que não há nenhum registro de tumulto ou queixa contra o pessoal que estava naquela roda. O clima na saída do estádio era o mais tranquilo possível, ainda mais porque o Atlético tinha vencido a partida. O que os fãs de Sete Lagoas queriam era tirar fotos com o jovem craque. Não digo nem por nós, jornalistas. Já estamos acostumados a Ronaldinhos Gaúchos, Romários e Edmundos da vida. Um jogador sair sem falar conosco é coisa rotineira, tanto que ninguém da imprensa mineira portava microfone ou câmera para abordar Neymar.

O que aconteceu a partir daí é que foi surpreendente.

Neymar, ao ouvir nossos comentários, parou e voltou até nossa roda. Digo mais uma vez. Ninguém o provocou, conversávamos entre nós, e ele ouviu porque passou a meio metro da roda. Os seguranças tentaram contê-lo, mas ele insistiu e disse que queria falar comigo. Eu assenti com a cabeça, ele se aproximou. Estendeu a mão pra mim e disse:

- Te peço perdão, cara. Não sou o que você disse. Estou chateado, não quis fazer nada para desagradar você e sua cidade. Me perdoe, por favor.

Espantado, como todos ao meu redor, só tive tempo de balbuciar, antes que ele saísse.

- Tudo bem, cara. Tá desculpado. Esquece.


***


O espanto foi ficando cada vez maior, enquanto Neymar se afastava. Ainda mais porque todos nós sentimos total sinceridade no que o menino disse. Com o rosto inchado de chorar e ainda com lágrimas escorrendo pela face, vimos ali um ser humano, falível e arrependido por erros que cometeu e que cometeram por ele. Claro que a maior parte deles, com sua anuência.

Não deve ser fácil ser Neymar. Não vou aqui cair no lugar-comum de fazer contas sobre seus rendimentos, sua fama, seu trânsito livre em qualquer lugar do Brasil. Se os tem é porque merece, tem talento e trabalhou para isso.

A pressão sobre o moleque é monstruosa. Dirigentes, torcida, patrocinadores, empresários, agentes. É gente demais cobrando, dando palpites e querendo guiar a cabeça dele pra alguma direção diferente. Pra se ter uma ideia, este jogo contra o Galo foi o 59o disputado por Neymar este ano. E ainda tem o restante do Brasileirão e o tão sonhado Mundial de Clubes, em dezembro.

É claro que ele recebe pra isso. E muito bem, por sinal. Mas, a fama e a idolatria de boa parte da juventude brasileira não dão a Neymar o direito de passar por cima de todos nem de se julgar melhor que ninguém. Problemas comuns para nós mortais como contas, prestações e dívidas não fazem parte da vida de Neymar. É exatamente o que eu já disse aqui. Ele fez por merecer tudo o que tem, mas precisa ter prudência para administrar tudo o que é intrínseco a esta fama absurda e sem limites.



***


O episódio de ontem foi minúsculo, presenciado por, no máximo 10 pessoas, se tanto. Mas foi marcante. Não me arrependo hora nenhuma do comentário que fiz ao ver Neymar cercado por um paredão de brutamontes, como se alguém ali quisesse morder sua orelha ou lhe roubar as correntes de ouro. Foi exagero mesmo, foi uma bosta mesmo, com a desculpa pelo termo chulo.

Mas o perdão que ele me pediu, com os olhos cheios d´água, pareceu verdadeiro. E eu espero que tenha sido mesmo. Espero que ele tenha, nem que por um mísero segundinho, percebido que não é, na essência, aquilo que demonstrava ser, ao deixar um ambiente totalmente amistoso, como se fosse para a guerra.

Neymar errou, ao aceitar fazer parte daquele circo ridículo. Nós erramos também, ao não perceber a fragilidade do menino naquele momento. Espero que todos tenham aprendido a lição. Pra mim, foi uma experiência e tanto.

Obrigado Neymar, por ter sido humilde ao me pedir desculpas. Mas, principalmente, muito obrigado aos meus companheiros Igor Assunção, Fábio Pinel, Victor Martins, Felipe Ribeiro e Gustavo Faria, por não deixar morrer em mim o espírito crítico que move o exercício do bom jornalismo, que tento fazer todos os dias.

domingo, 9 de outubro de 2011

O dia em que os Beatles jogaram bola em BH

O dia em que os Beatles jogaram bola em BH

Conheça a fantástica história, nunca revelada, sobre a visita do quarteto de Liverpool ao Brasil


Uma história fantástica e jamais revelada ao grande público foi contada esta semana em Belo Horizonte por um vendedor ambulante, morador do tradicional conjunto IAPI, no bairro São Cristóvão, região noroeste da capital. José Carlos Dias, de 74 anos, vive no conjunto habitacional desde 1960, quando deixou Ubá, na zona da mata mineira, com os pais e seis irmãos para tentar a sorte na cidade grande.

Filho mais velho do casal Amantino e Maria José, Zé Carlos já tinha 20 anos quando chegou à capital. Sonhava estudar direito, mas os poucos recursos financeiros da família e a necessidade de trabalhar para ajudar os pais a criar os irmãos mais novos não permitiram que ele concretizasse seus projetos. Trabalhava como vendedor de picolés ambulante e, nos momentos de folga, se divertia jogando futebol nos campos do conjunto IAPI, na época, tranquilo e livre dos problemas de violência que tanto incomodam os moradores hoje em dia.

José Carlos acompanhava de perto o futebol, sua maior paixão, e segundo ele, torceu muito pela seleção brasileira na Copa de 1966, disputada na Inglaterra. O Brasil não conseguiu passar da primeira fase do Mundial, numa de suas piores colocações na história, mas uma passagem pouco conhecida até os dias de hoje, mudou a vida do vendedor ambulante para sempre.


Coincidência


O Brasil disputou a Copa do Mundo da Inglaterra como pleno favorito ao título, já que havia vencido as duas últimas edições da competição, em 1958, na Suécia, e em 1962, no Chile. Os jogadores brasileiros desembarcaram na Inglaterra como ídolos. Fotógrafos e jornalistas se espremeram para conseguir algum registro da seleção. Hugh Smith, repórter do The Guardian, responsável pela cobertura da estadia dos brasileiros em território inglês, conta como foi sua primeira impressão ao ver o desembarque no aeroporto de Heathrow, em Londres.

- Só havia visto algo parecido nos concertos dos Beatles. Era um movimento tão grande quanto, exceto pela histeria, que era, obviamente, menor.

A estreia do Brasil, única vitória canarinha no torneio, foi, coincidentemente, em Liverpool, berço do quarteto musical britânico. O Brasil enfrentou e venceu a Bulgária por 2 a 0, no último jogo em que Pelé e Garrincha defenderam a seleção juntos. A partida foi disputada no tradicional Goodison Park, estádio do Everton, e teve lotação máxima de 48 mil pessoas.

O duelo contra os búlgaros passou para a história como a única exibição convincente do Brasil na Copa de 1966, já que o time seria derrotado posteriormente por Hungria e Portugal, em ambos os jogos por 3 a 1, e voltado para casa como a grande decepção daquele mundial. Exceto por um fato, que ficou escondido por 45 anos e que agora é revelado pelo VELHO LUDOPÉDIO.


Brian Epstein


O empresário dos Beatles, Brian Epstein, considerado por muitos como um dos grandes responsáveis pelo sucesso do quarteto, esteve no Goodison Park na vitória brasileira sobre os búlgaros. Segundo informações, Epstein não era fã de futebol, mas estava pensando em novas estratégias para promover os Beatles. O quarteto havia anunciado, um mês antes, que não faria mais apresentações ao vivo, o que estaria deixando o empresário sem sono. Para Epstein, portanto, um encontro com Pelé, já famoso mundialmente naquela época, seria formidável.

Além disso, as declarações polêmicas de John Lennon, de que os Beatles eram mais populares que Jesus, estavam repercutindo mal em todo o mundo. Então, nada melhor que fazer publicidade com o melhor time de futebol da Copa, no país berço do esporte.

Segundo relatos da época, John Lennon teria sido o primeiro a rechaçar a ideia de Epstein. Já prevendo o fato, o empresário envolveu George Harrison no assunto, sabendo que o Beatle mais jovem era fã ardoroso do futebol e dos brasileiros, em particular. Envolvido com a cultura indiana à época, Harrison não demonstrou interesse imediato no projeto do manager da banda, mas quando ficou sabendo da possibilidade de conhecer Pelé, mudou completamente seu foco.

Paul McCartney, conhecido por sua habilidade em lidar com assuntos de marketing pessoal, logo comprou a ideia e se propôs a convencer Lennon a fazer uma visita ao hotel da seleção brasileira. Mas nem o insistente apelo de Paul fez com que John mudasse seu pensamento. Até que outro imprevisto aconteceu...


Tostão, fã dos Beatles



Se hoje em dia, com a internet e as redes sociais, os boatos se espalham em segundos, as coisas não eram diferentes em 1966, quando se tratava de Beatles e seleção brasileira. Sabendo do suposto interesse do empresário dos Beatles em Pelé e companhia, o atacante Tostão, na época com 19 anos, se entusiasmou. Venceu a timidez e falou com o futuro atleta do século sobre o assunto. Pelé não demonstrou entusiasmo, mas também não achou ruim. Mais preocupado com uma contusão no tornozelo direito, que o deixaria fora do jogo com a Hungria, o rei disse que toparia um encontro, como lembra o lateral pernambucano Rildo, também fã do quarteto britânico.

- O Tostão veio com aquele papo mineirinho, querendo marcar um encontro. O Negão não tava nem aí, com o tornozelo inchado, parecendo a coxa. Mas ele não era bobo, sabia do que representaria aquilo, então mandou ver né? Eu estava tão ansioso quanto o Tostão, também era fã dos caras né?


Tudo errado


Com a reciprocidade dos brasileiros, o empresário Brian Epstein conseguiu marcar a data do encontro. O dia escolhido foi 20 de julho de 1966, após a última partida do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo. Os Beatles moravam em Londres, mas convencidos por Brian, foram para a terra natal, sem maiores contestações. John Lennon, que parecia ser o maior problema para o acontecimento, apareceu para o embarque bem humorado e brincalhão, segundo relato de Hugh Smith:

- Ele chegou brincando, fazendo piadas, muito amável. Parecia que ia dar tudo certo.

Parecia. Ao desembarcar em Liverpool, ainda que anônimos, os Beatles foram recebidos com a notícia de que fãs estavam queimando seus discos em todo o mundo, por causa das declarações de Lennon. Isto, somado ao fato de que a seleção brasileira havia sido derrotada por Portugal na tarde anterior, tornou o encontro frio e cansativo para ambas as partes.

O jovem Tostão era o mais empolgado, mesmo com a derrota. Tirou fotos, bateu bola com Paul e George e pediu que o grupo fizesse uma visita a sua casa, no Brasil.

Paul prometeu que iria, ainda em 1966, já que queria muito conhecer o Brasil. George concordou. John e Ringo discutiam outros assuntos e não participaram do restante do encontro, acompanhados por um triste e desolado Pelé. Apenas o empresário demonstrava alguma possibilidade de que o devaneio se tornasse realidade um dia.

O ano de 1966 se encerrou sem que os Beatles aparecessem em Belo Horizonte. A morte de Brian Epstein, em agosto de 1967, fez com que a ideia maluca de Tostão parecesse ainda mais distante. Até que o destino agiu mais uma vez e o sonho virou realidade.


Zé Carlos, do IAPI


José Carlos Dias fala do passado com lucidez incrível. Com 74 anos, ainda vende picolés caseiros pelo centro de Belo Horizonte, com o auxílio de cinco garotos. Com a renda do trabalho diário, que gira entre R$ 1.500 e R$ 2.000 por mês, segundo suas próprias contas, criou três filhos, todos com curso superior, fato que faz questão de relatar. De conversa fácil e tranquila, Zé Carlos jura que foi ele a dar o apelido de Tostão ao jovem Eduardo, nas peladas antigas no conjunto IAPI.

Sete anos mais velho que o famoso jogador, Zé Carlos disse ter visto no garoto uma joia rara, e logo percebeu que Tostão teria sucesso no futebol. As histórias da amizade entre os dois, que dura mais de 50 anos, são comprovadas por inúmeras fotografias e presentes dados por Eduardo, que Zé Carlos guarda com muito carinho.

Mas, a história que mais entusiasma o velho vendedor de picolés não está ligada só ao futebol. E faz muita gente duvidar e dar risadas de Zé Carlos a cada vez que ele arrisca contar.

- Antes eu falava disso com mais entusiasmo. Hoje, nem falo mais. Aqui no bairro me chamam de louco, mentiroso, loroteiro. Eu não sou nada disso. Eles vieram aqui mesmo.

Eles, é claro, são os Beatles, e a história de José Carlos Dias é bem detalhada e muito plausível. Confirmada por alguns e motivo de piada para outros, no conjunto IAPI, o certo é que a mágica e misteriosa viagem do quarteto fabuloso ao Brasil não tem nenhum registro histórico.


Outono de 1967


Por mais que não tivesse mais tanta influência sobre os Beatles, como no começo da carreira da banda, a morte de Brian Epstein abalou o quarteto de forma nunca vista, o que é confirmado pelo escritor Bob Spitz, autor da mais completa biografia sobre a banda.

- Eles eram muito instáveis, cada um seguia uma linha de pensamento diferente. O atrito entre Paul e John era visível. Ringo parecia alheio a tudo. E George buscava alternativas na espiritualidade. Mesmo assim, parecia um barril de pólvora, prestes a explodir.

O que José Carlos Dias conta é que George Harrison sugeriu uma viagem a Índia, que realmente aconteceu e foi amplamente documentada, no início de 1968, mas que antes, com apoio de Paul McCartney, a banda esteve no Brasil, de forma anônima.

O biógrafo Bob Spitz acha difícil. Mas admite haver um hiato na história dos Beatles entre outubro e novembro de 1967. Segundo Spitz, os Beatles estavam de férias, cada um em um canto diferente da Europa.

O fato é que, segundo Zé Carlos, os Beatles vieram ao Brasil, e após, uma estadia de três dias no Rio de Janeiro, desembarcaram em Belo Horizonte.


Pelada no IAPI


É impensável imaginar o maior ícone da história da música jogando bola num conjunto habitacional de Belo Horizonte hoje em dia. Em 1968, pior ainda! Os simples hábitos e trajes dos Beatles escandalizariam qualquer um num Brasil dominado pelo medo imposto pelo regime militar, ainda mais no ano da maior repressão política e social da ditadura.

De acordo com o relato de Zé Carlos, chovia muito no dia em que os Beatles estiveram em BH. Eles chegaram ao IAPI no começo da tarde. Foram até o apartamento onde o jovem Eduardo havia vivido com os pais durante toda a vida, a convite do próprio Tostão. Segundo o vendedor de picolés, por ideia de George Harrison, foram para o campo de terra do conjunto jogar bola, para ter contato com a natureza. Com túnicas coloridas, se divertiram como crianças, sob a chuva forte da primavera brasileira.

Voltaram para a casa dos pais de Tostão, tomaram café, comeram broa caseira, entraram na kombi que os trouxera, e foram embora, rodeados por poucas crianças, tão lamacentas quanto os jovens Eduardo, Zé Carlos, Paul, John, Ringo e George.

Zé Carlos Dias segue sua vida tranquila, no mesmo apartamento que vivia em 1967. Não se incomoda mais com os que o chamam de mentiroso. A história foi caindo aos poucos no esquecimento e só é lembrada pelos mais velhos do IAPI.

Para Bob Spitz, tudo não passa de mais uma lenda, como o boato sobre a morte de Paul McCartney, surgida um ano depois. Mas, o mais famoso biógrafo dos Beatles deixa um mistério no ar.

- Pra mim, é tudo lenda. Uma lenda formidável por sinal e muito bem contada. Eu não acredito, de forma alguma, que seja verdade. Mas não tenho como provar que seja mentira.

Tostão, hoje colunista de vários jornais brasileiros, não fala sobre o assunto. O ex-jogador é muito reservado e evita entrevistas, de qualquer espécie. Surpreendido por nossa reportagem, na frente do prédio onde vive, no Bairro de Lourdes, região central de BH, mostrou-se irritado quando nos viu. Ao saber do que se tratava, porém, sorriu e deu de ombros.

- Se é o Zé Carlos que está falando, pode escrever aí, é tudo verdade.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Rodrigo e Fábio

Dois amigos muito queridos estão passando por um problema semelhante esta semana. Seus pais estão no CTI, se recuperando de problemas cardíacos. A mensagem que deixo aqui no Velho Ludopédio é de muita força, garra e, principalmente, fé em Deus, para os dois e para as famílias.

Nestes momentos é importante parar para refletir e pensar no que estamos fazendo com nossas vidas. Tenho certeza que o que meus amigos Rodrigo e Fábio mais querem neste momento é sentar pra tomar uma cerveja com seus velhos, assistindo a um jogo de futebol, conversando fiado e dando boas risadas. Eu sei que isto vai acontecer em breve. Mas, e o resto de nós? Estamos aproveitando a companhia das pessoas queridas enquanto as temos por perto?

Antes de escrever um dramalhão ou um texto cheios de clichês e lugares-comuns, o que proponho aqui é fazer com que todos nós, eu inclusive, paremos para pensar se vale a pena render pequenas discussões, brigas e raivas passageiras, enquanto a vida é tão efêmera. É claro que não! Perdoar, esquecer e saber pedir desculpas sinceras são coisas mais importantes do que passar o resto dos seus dias arrependido, tentando voltar a um tempo que já passou.

É isso por hoje. Corra até as pessoas que você ama e dê um abraço apertado e um beijo carinhoso. Não se esqueça de dizer que você as ama, enquanto ainda pode. E, por favor, não deixe de rezar para que os pais dos meus amigos Rodrigo e Fábio se recuperem e continuem firmes e fortes com suas famílias. Obrigado!


Para as famílias Martins e Pinel.

sábado, 13 de agosto de 2011

Quem ama vaia

Escuto um velho amigo dizer uma frase emblemática, e que sempre me perturbou, desde muito tempo atrás. Em todas as ocasiões, ganhando ou perdendo, rindo ou chorando, fevereiro ou junho, Paraíba ou Paraná, me lembro do nobre professor dizendo:

- Quem ama vaia.

Curioso que sou, não hesitei em perguntar o significado daquilo. Ele não tinha papas na língua e mandou:

- Amor é cobrança, é querer sempre o bem do outro. É não deixar quem você ama relaxar, nem achar que tudo está bom do jeito que está.

- Por que você vaia seu time então, mesmo quando ele está ganhando?

- Porque ele tem que continuar assim. Se eu não vaiar, os jogadores vão achar que está tudo bem, e aí vão se acomodar.

- E quando ele é campeão?

- Só foi campeão porque eu vaiei. Eles não descansaram nenhum segundo por causa da vaia.

- E seus filhos? Você aplaude?

- Não, claro que não. Eu criei. Sei o potencial deles e até onde podem ir.

- Seus alunos, professor?

- Menos ainda. Os pais deles os colocam lá naquela escola cara porque sabem que vão sair capacitados para o mundo.

- Nem quando tiram um 10?

- Claro que não, Se o aluno tirou 10 é porque era possível. Toda a matéria foi dada anteriormente. Mérito dele, mas não vou aplaudir. É melhor vaiar, para ele ficar alerta e não tirar 9 na próxima.

- E sua esposa, você vaia?

- Ah... aí não dá né? Não dá pra vaiar minha neguinha...

- Mas por quê? Você não a ama?

- Amo, claro. Muito.

- E vaia não é pra quem se ama?

- Sim, sim. Mas é praquele amor que a gente quer melhorar, que a gente quer que evolua. Aquele amor que você sabe que ainda tem mais pra dar, pra você e pro resto mundo. Seu time, seus alunos, até mesmo seus filhos. Isso é pro bem deles, não é maldade. Nunca vaiei alguém que eu não amasse de verdade.

- E sua esposa? Responde. Por que você não vaia?

- Nunca vaiei. Essa não dá pra vaiar. Ela me dá tudo que preciso. Ela me ampara quando eu caio e me perdoa quando erro. Ela me completa, me acelera e me freia. Ela me entende até quando eu mesmo ainda não me entendi.  Ela não precisa melhorar. Por isso que eu nunca a vaiei.

- Agora entendi.

- Você é chato demais. Pergunta muito. Vaia pra você!

* Para meus amigos Angel, Eugênio e Murillo, companheiros de muitas e históricas vaias.