Dirigir em Belo Horizonte está cada vez mais difícil e estressante. É a sensação que tenho e que percebo ser comum em muitos outros conterrâneos. Antes que alguém diga que é por causa do excessivo número de carros nas ruas, lembro que o fenômeno acontece em todas as cidades do país, mas o que vejo em BH só reparo por aqui mesmo.
Por causa do meu trabalho, dirijo nas principais capitais do
Brasil, apenas três ou quatro dias por ano, é verdade, mas o suficiente para
notar algumas coisas. Porto Alegre, Recife e Salvador também sofrem com a
grande quantidade de carros nas ruas, causa lógica de engarrafamentos e
lentidões. Até mesmo Curitiba, referência mundial em transporte público de
qualidade e trânsito organizado, passa pelo problema. Não vou abordar Rio e São
Paulo neste quesito, por motivos óbvios.
A diferença que vejo em Belo Horizonte, em relação a todas
estas cidades, e também a Goiânia, Florianópolis, Maceió, Campinas e São Luís,
é a educação do motorista da capital mineira. Volto a repetir que dirijo apenas
alguns dias por ano nestes outros lugares e praticamente doze meses por ano
aqui, mas a nítida impressão que tenho é que nós somos mais mal-educados que os
outros.
Parece que o mineiro está na guerra quando dirige. Lembrando
aquele desenho do Pateta, de 1950, em que ele se transforma de um dócil senhor
em um monstro raivoso, após alguns minutos no tráfego pesado. Não é muito
difícil presenciar nas ruas da cidade discussões com xingamentos, dedos em riste
e em outras posições menos elegantes. O belo-horizontino já entra em seu carro
armado de impaciência, raiva e intolerância, esperando o pior no caminho para o
trabalho, para a escola ou para a casa, e disposto, em alguns casos, a partir
das ameaças para as vias de fato.
Outro aspecto que percebo é a necessidade de levar vantagem
em tudo. O motorista daqui prefere fechar um cruzamento ou deixar de ceder
passagem a outro pensando que está salvando alguns segundos do seu dia, quando,
na verdade, está colaborando para a construção de algo muito maior e vai fazer
muito mais gente perder tempo, incluindo ele mesmo, é claro. O motorista
belo-horizontino parece sentir um golpe em sua honra quando outro carro o
ultrapassa ou entra em sua frente em uma grande avenida num congestionamento.
Melhorar toda esta conjuntura não é fácil e exige sacrifício,
paciência e, principalmente, mudança total de hábitos e atitudes. Textos como
este em redes sociais podem ajudar sim, mas a grande iniciativa tem que partir
do poder público. Vejo a BHTrans muito mais preocupada em tomar medidas
paliativas e arrecadar com multas do que em organizar grandes campanhas de
educação e gentileza no trânsito, envolvendo todos os setores da sociedade, e convidando
o cidadão a se envolver e ser parte efetiva deste processo de mudança.
Nasci, cresci e morei em Belo Horizonte durante praticamente
toda minha vida. Sei que não somos mal-educados nem egoístas e que, quando
queremos, sabemos nos envolver em causas importantes e que trazem o bem comum. Cobrar
do poder público um transporte coletivo que realmente funcione vai diminuir o
número de carros nas ruas. Isto também podemos fazer. Mas o que nos cabe agora
é mudar os próprios hábitos. Cada um de nós pode pensar no que está fazendo ao
volante e em como se comporta nas ruas da cidade. Para começar a diminuir a
tortura que é andar de carro em Belo Horizonte por míseros dez minutos.