quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As irritantes peladas beneficentes

Nós adoramos criticar o estilo de vida dos jogadores de futebol. As roupas que eles usam, o modo como falam e a maneira como alguns administram suas carreiras. E, mesmo nos rasgando de inveja silenciosamente, damos um jeito de falar mal dos condomínios onde moram, dos carros que dirigem e até das mulheres que os acompanham. Vejam a que ponto chegamos nós, os invejosos.

Nesta época de fim de ano, então, nos esbaldamos.  Como é bom detonar as peladas beneficentes entre os Amigos do Neymar e os Primos do Ganso, entre os Vizinhos do Tardelli e os Conterrâneos do Wellington Paulista, ou entre os Cunhados do Diego Souza e os Companheiros do Fred!

É verdade que, de norte a sul do país, tem uma turma de bajuladores barrigudos participando desses jogos beneficentes. São amigos, agentes, empresários e jornalistas dispostos ao vexame de expor a redonda silhueta em troca dos 15 minutos de quase fama.

Isto sem falar na turma do pagode, do rap e do funk, que também está lá pra fazer seu comercial e jogar sua bolinha de fim de ano. O que é outro prato cheio pra turma que gosta de criticar. Porque não há Buarques, Velosos, Camelos nem Gadus nas festas que terminam regadas a chope e picanha da boa.

Mas vem cá, falando baixinho, só entre nós. O que é que tem de errado nisso? O que os boleiros estão fazendo de tão mal assim? Por que eles nos incomodam tanto com essas peladinhas beneficentes de fim de ano?

Até onde eu sei, todas elas são beneficentes mesmo. Um quilo de alimento não-perecível, exceto fubá e sal, trocado por um ingresso. Toneladas e toneladas de alimentos distribuídas Brasil afora, por causa dessa diversão de boleiro e pagodeiro que irrita tanta gente boa por aí.

Ah sim, não é bem por aí, nós vamos dizer. Porque não é só isso. Os jogadores querem mesmo é aparecer e tirar proveito político e econômico da situação, fingindo uma imagem de bons moços. A turma do pagode também, é claro. Mas e daí? Eles doaram alimentos pra muita gente necessitada, em vários cantos do país, na brincadeira deles de fim de ano. E nós, que criticamos e reclamamos tanto?

Será que cada um de nós teve a boa vontade de pegar a cartinha pro Papai Noel nos correios e fazer, pelo menos, uma criança desconhecida feliz?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Futurologia

A futurologia é a ciência que tenta antecipar o futuro. Cruzando dados, analisando tendências, somando números e detalhando acontecimentos do presente. Com isso, o que está por vir fica mais previsível, de uma forma ou de outra.

Vários políticos, economistas e empresários buscam na futurologia um elemento fundamental no planejamento cotidiano para o trabalho. Estão certos todos eles, claro. Tudo o que for útil para obter maiores lucros e acertos em quaisquer atividades profissionais é válido.

Mas o nosso negócio aqui é o futebol, que não é uma ciência exata, como todo mundo sabe. O futebol é um dos poucos jogos na vida onde o fraquinho ganha do fortão, mesmo sem ninguém explicar como. A história do esporte registra vários exemplos de Davis batendo Golias mundo afora. E por isso o Velho Ludopédio é tão fascinante.

Domingo passado. Final do Mundial Interclubes. Santos x Barcelona. No Japão.

Eu queria antecipar e entender perfeitamente a tática do Barcelona. Fazer a futurologia de quantos chutes daria Messi durante o jogo. De quantas tabelas fariam Xavi e Iniesta. E do tanto de vezes que Daniel Alves seria acionado por Fábregas pelo lado direito do campo.

Não pude e nem consegui, é óbvio. Se fosse tão fácil assim, Muricy Ramalho também saberia. E talvez o Santos tivesse vencido o jogo.

Eu torci pro Santos ganhar. Eu entendo muito pouco de futebol. E menos ainda sobre futurologia.  Só torço pras coisas e pros times que meu coração manda. E mesmo depois de passados alguns dias, e da derrota ainda mal-digerida, eu queria voltar o tempo e fazer o meu amigo Davi vencer o estranho Golias da Espanha.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Abstinência

Não tem jeito. Todo ano é a mesma coisa. Eu tenho essas crises entre dezembro e janeiro. Elas já se tornaram comuns e rotineiras na minha vida. Mesmo já sabendo que isto vai acontecer, eu não tenho como evitar.

Parece que me falta ar. Não tenho lugar. Nem assunto. A ansiedade me torna uma pessoa de convivência insuportável. Minhas mãos suam e tremem. Meus cabelos caem e o que me resta é dormir para esperar o tempo passar.

Já tentei tudo o que me indicaram para a cura. Sei que o primeiro passo na reabilitação é reconhecer o vício e partir para combatê-lo. Hipnose, acupuntura, musicoterapia, florais, enfim, nada adiantou. Sigo com meu problema e espero um dia ficar livre dele.

De uns tempos pra cá, inventaram o Brasileiro Sub-20 e a Future Champions, uma competição sub-17 pra lá de bacana, que, somadas com a Copa São Paulo de Juniores, já em janeiro, aliviam um pouco a dor. Mas mesmo assim, não é a mesma coisa.

Eu preciso de futebol! Futebol é meu oxigênio. Não tenho razões para levantar da cama se não tiver futebol pra eu ver. Não tenho assunto.  As palavras me faltam. Reconheço que fico ainda mais chato do que já sou.

Os torneios das categorias de base me ajudam muito, sem dúvida. Os campeonatos europeus, que não param durante esta época de fim de ano, também. Mas o que eu gosto é de adrenalina. De torcer pra alguém ganhar ou perder. O que importa mesmo, ao fim de tudo, é fazer contas olhando o saldo de gols dos adversários. O saldo de gols é a equação matemática mais perfeita de todos os tempos.

Peço mil desculpas por compartilhar um problema tão grave e íntimo com vocês. E agradeço a paciência por me ouvirem. Mas, deixa quieto, que tá começando Parauapebas x Ananindeua, pela primeira fase do Campeonato Paraense do ano que vem. Isso mesmo, do ano que vem!

Ah... pobres de vocês que não gostam de futebol...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Memória


A memória humana é uma das coisas que mais me impressiona na vida, desde menino. O quanto ela pode armazenar de informações, a intensidade das lembranças que guarda, e de que maneiras diferentes estas recordações são acionadas, quando preciso.

Para algumas pessoas basta um cheiro, um leve perfume apenas, e um leque vivo se abre na memória. Detalhes de momentos vividos, nomes, rostos, histórias de vida. Acontece também com o paladar. Um gosto guardado no fundo das papilas gustativas recria lugares, situações, e traz de volta pessoas já apagadas em nossa existência mental.

O oposto também é corriqueiro, infelizmente. A danada da memória nos trai, e o nome de um velho conhecido foge na hora certa. Uma analogia inteligente, um caso engraçado pra contar naquele momento exato, enfim. Essas coisas passam voando pela cabeça e tentar resgatá-las, às vezes, é mais frustrante do que simplesmente deixar pra lá.

É assim com tudo mundo, imagino. Eu mesmo. Sei de cor o ano em que cada banda que gosto lançou os seus discos. Lembro-me dos artilheiros das principais competições do futebol mundial, desde os primórdios. Sei o nome de todas as minhas professoras e colegas de sala desde que comecei a estudar. Sou praticamente um fenômeno!

Mas, por outro lado, às vezes erro caminhos que faço diariamente. Esqueço a grafia de palavras que uso desde os 12 anos de idade. E nem tenho ideia do que fiz na tarde de quinta-feira da semana passada. Mesmo sem ter bebido uma gota de álcool. Sou realmente uma besta!

Nem um nem outro, é claro. Nossa memória é assim mesmo. Chata e seletiva. Por várias e indefinidas razões, seleciona o que quer e o que não quer guardar. Ou não precisa guardar.

Então não esquenta. Se alguém passou por você na rua e não te cumprimentou, pode ser que não tenha se lembrado de você. Mas também pode ser que não. Talvez este alguém simplesmente tenha te ignorado. E isto pode ser sinal de sorte! Há o outro lado, evidentemente. Você pode fazer a mesma coisa, se quiser. Pode fingir que não se lembrou de uma pessoa, daquelas bem chatas. E quem vai provar que não se lembrou mesmo? É culpa da memória...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Pará e nós


Os paraenses recusaram a proposta de dividir o estado em três, num plebiscito realizado este fim de semana. Seriam criados os estados de Carajás e Tapajós, mas dois terços da população rechaçaram a ideia.

Não vou discutir a política e a economia envolvidas no polêmico assunto. Não tenho conhecimento, competência e nem estudo para isto. Só acho que as siglas dos novos estados seriam CA e TA né?

Também não vou falar sobre o que isto mudaria no futebol. Imagino que seriam mais duas vagas na Copa do Brasil e na Série D do Campeonato Brasileiro. Série D que, por sinal, já foi conquistada por um time do glorioso estado – não fundado – de Tapajós, com o São Raimundo, em 2009, ao bater o Macaé-RJ, na final.

O que não entendo é o porquê de dividir um estado brasileiro em três, enquanto as fronteiras entre os países estão ficando, a cada dia, mais fáceis de serem cruzadas.

Temos a sensação de saber o que acontece em qualquer lugar do mundo, em tempo real e numa linguagem acessível a todos. Lutamos para diminuir as diferenças e atritos entre religiões, nacionalidades e etnias. Isto, sem deixar de preservar a identidade de cada uma. E mesmo que a gente falhe em boa parte dos casos, a sensação de estar brigando por um mundo sem fronteiras, diferenças e guerras é válida e reconfortante.

Vai ser bom ter o Águia, de Marabá, o São Raimundo, de Santarém, e o Paysandu, a Tuna Luso e o Remo, de Belém, na Série A do Brasileirão, num futuro próximo. E vai ser bom também ver o estado do Pará unido e forte, sob uma mesma bandeira. Mas vai ser melhor ainda ver o mundo todo sem divisões e fronteiras, com todos se respeitando e se ajudando. Sob a mesma bandeira branca da paz.


Dedicado ao amigo Mário Marra e inspirado em seu blog, que sempre leio e recomendo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Festas de fim de ano

Eu gosto muito dessas festas de fim de ano. São boas oportunidades para rever alguns amigos e bater papo com quem a gente convive pouco no dia-a-dia, por causa da correria da vida. Tem também a comilança e os gorós que a gente toma, e às vezes se arrepende do tanto, no dia seguinte. Mas tudo bem, todo ano é a mesma coisa.

São juras de amizade eterna e promessas de não deixar a distância tomar conta no ano que vem, como tomou este ano. No fundo, todo mundo sabe que vai ser do mesmo jeito, mas é bom abraçar um amigo e comemorar as realizações deste ano e brindar os projetos do próximo, com a certeza de repetir tudo isto daqui a doze meses.

Os preparativos para os comes e bebes também são um capítulo a parte. Nas festas das empresas, tá tudo certo. Fica por conta da turma que teve a coragem de organizar a bagunça. Ou da que o RH mandou que organizasse. Mas quando a reunião é daquela rapaziada das antigas, não tem jeito. Cada um faz e leva o que vai alimentar o turbilhão de famintos e sedentos.

E não tem jeito. Haja assunto, conversa fiada, projetos a realizar e pedidos de perdão. Enfim, todas as roupas sujas são lavadas nestas festas. E perus assados, garrafas de vinho, rabanadas, cervejas, e por aí vai. Cada um curte como quer.

O que eu não me permito é fazer concessões nestas festas. Quem não foi meu amigo durante toda a vida, não vai ser agora, na hora da bebedeira e do apagar das luzes do ano. Não vou sorrir, abraçar e nem dar tapinhas nas costas de quem eu não gosto. De mau caráter. De gente pilantra. Sem chance. Se toda a energia de fim de ano pode parecer falsa nas festas que a gente tem que ir forçadamente, em todos os dezembros, ela não vai ter a contribuição das minhas mentiras.

Eu até posso estar sendo radical, insensível, ou pouco político, na definição mais light. Mas prometo pra mim mesmo que todo abraço e voto de fim de ano que eu fizer pra alguém será sincero, honesto e desejado do fundo do meu coração. Os picaretas que se danem!



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Meu querido, meu velho, meu amigo

Oi! Peço licença a você que me lê agora para uma pequena explicação, antes do começo da leitura. Este deve ser o milésimo texto que eu escrevo dedicado ou mencionando o meu pai aqui no Velho Ludopédio.  Desculpe-me, do fundo do coração, se é frustrante dizer que não há nenhuma relação super complexa ou raivosa entre mim e o velho. Nenhuma briga histórica, reconciliação entre lágrimas. Nada de distância involuntária, algum êxodo por causa de trabalho, guerra civil, nada disso! Então, vamos lá...

A grande e absoluta verdade é que meu melhor amigo e maior ídolo de todos os tempos é o meu velho pai! E que este texto, perdido entre tantos outros, é só pra dizer isto mesmo.

Entre as tantas coisas erradas que já fiz na vida, não estão incluídas mágoas e ofensas ao meu pai. Sou um afortunado por isso. Iluminado e abençoado por Deus, sempre tive a capacidade e o discernimento de ouvir os conselhos que vinham do meu coroa.

O negócio é que agora chegou a hora de construir a minha própria família. Então, eu peço a Deus pra manter o Super Astoni aqui ao meu lado, por mais alguns bons e longos anos. Porque mesmo que o velho erre e tropece nos caminhos da vida, ele nunca vai deixar de ser ‘meu querido, meu velho e meu amigo’. Como diria o rei Roberto.

Eu vou abraçar meu pai agora. A coisa mais gostosa da vida é apertar meu melhor amigo junto ao meu peito.  

Se o seu velho pai está aí perto de você, não deixe de fazer o mesmo. Se não está, reze pra ele e agradeça por tudo o que ele te fez. A mim, só resta sorrir e pedir a Deus para ter muito mais tempo ao lado do meu querido, do meu velho, do meu amigo.