Criança tem medo de muita coisa na vida, tipo Bicho Papão, quarto escuro, mula sem cabeça, Tiranossauro Rex e outros monstros de arrepiar. Quando ela cresce um pouco e vira adolescente, os medos vão ficando mais concretos, como prova final, vestibular, separação dos pais, acidente de trânsito e coisas que são horripilantes mesmo.
Os medos são nossos amigos, na verdade. Fazem a gente se afastar do que pode nos machucar pra valer. E nos deixam numa faixa de conforto onde nada nem ninguém pode nos atingir.
Eu bem me lembro da minha infância e do que me assustava. Pra fugir de todos os fantasmas, imaginários e reais, eu ia jogar bola na rua. Ou então, torcia pra ser quarta ou domingo, pro meu pai ou meus tios me levarem pro Mineirão.
Na adolescência e na vida adulta as coisas não mudaram muito. Até hoje eu afogo os medos e problemas do dia-a-dia na pelada de segunda-feira, com os bons e velhos amigos. Ou quem foi que disse que cada homem crescido não tem seu Bicho Papão pessoal, cutucando terrível, que nem ferro de dentista, a cada descuido seu?
Mas o que me preocupa mesmo são as crianças de hoje. Como será que esses pobres meninos e meninas exorcizam seus medos? Jogar bola na rua é impossível. Carros velozes, sequestros, roubos, mil e uma formas de violência de todos os tipos...
Ir ao estádio, então, é ainda pior. Como levar uma criança ao campo com tanto arrastão, tanta pedra voando, tanta briga?
E assim, nossas crianças de hoje vão condensando seus medos em playstations, facebooks, i-Pods e solidão. Sem nenhuma válvula de escape. Pobres de nós...
Os meus dois filhos exorcisam os medos no colo da mamãe, que eles ainda acreditam ter poder total para protegê-los. Um dia, coitados de nós três, eles vão crescer.
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