sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Heróis e vilões

A vida é feita de heróis e vilões. Ou você é muito bom ou é muito mau. Ou salva lindas mocinhas ou sequestra velhinhas indefesas. Ou é benfeitor de uma instituição de caridade ou arranca máscaras de oxigênio de pacientes em estado terminal.

Pelo menos foi isso que me ensinaram quando eu tinha cinco anos. Não tinha meio termo. Era amor ou ódio. Super Homem e Lex Luthor. Batman e Coringa. Homem Aranha e Duende Verde.

Levei isso para as coisas que gostava e tudo se refletiu mais claramente no futebol, claro. Sou da geração que sofreu com a perda da Copa de 1982. Eram heróis - ainda que não necessariamente vitoriosos - Zico, Falcão, Sócrates, Éder e companhia, enquanto os malditos vilões eram basicamente Paolo Rossi e Dino Zoff.

Acontece que me contaram que o Dino Zoff era um cara extremamente bacana. E que o Paolo Rossi tinha comido o pão que o diabo amassou por causa de um escândalo na loteria italiana, no começo dos anos 1980. Então, automaticamente passei a admirar e gostar dos dois grandes vilões da minha infância.

Depois disso passei a enxergar com outros olhos todos aqueles que eram considerados malditos no futebol. O maior que vi foi o ponta-esquerda Ado, do Bangu. Ele perdeu o pênalti que deu o título do Campeonato Brasileiro de 1985 ao Coritiba, no jogo sem graça mais emocionante da história.

Na minha lembrança, todo mundo torcia pro time carioca, menos eu. Na hora em que o Ado perdeu o pênalti, eu achei bom. Mas bastou o Coxa ser campeão e a câmera dar um close nele, pra eu me lembrar que o Ado era tão humano quanto eu, que devia estar se contorcendo em dores e que jamais teria espaço na minha galeria de vilões. Ado virou herói a partir daquela hora. Porque, ao invés de comemorar com os coxa-brancas, tão distantes do eixo como nossos times mineiros, eu queria mesmo era consolar o pobre diabo que tinha acabado de entrar pra história.

Hoje o Ado vive anonimamente no Rio de Janeiro, tentando seguir na carreira de treinador. Sem sequer imaginar que é heroi de um garoto que cresceu torcendo pra que ele voltasse no tempo e acertasse aquele pênalti, ainda que fosse apenas nos seus sonhos.

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