sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O impedimento

Entender como funciona a regra do impedimento no futebol é a coisa mais fácil do mundo. Pelo menos pra mim. E desde quando eu era um metro mais baixo e oitenta quilos mais magro.

Se papai e mamãe estavam brigando na cozinha, na frente do fogão e da geladeira, e mamãe era a zagueira, papai, como bom atacante, não estava impedido. Se o carrinho de bebê da minha irmãzinha estava um metro e meio atrás do berço, e eu me posicionava entre o tal berço e o pudim de leite condensado, sobremesa dela, mamãe marcava impedimento na hora.

Aprendi assim. Fácil demais. Como não entender isso, meu Deus? Depois ainda mudaram um pouco da regra. Alguma coisa sobre mesma linha. Nisso eu já era adolescente. Mas ainda assim ficou fácil. Por exemplo: o garçom vinha com a bandeja cheia de cerveja. Se minha mãe estivesse olhando pra mim, na mesma linha da bandeja, eu estava impedido. Se ela estivesse distraída, falando com a Dona Ermengarda sobre qualquer assunto paroquial, eu driblava o garçom, passava por algum pai preocupado, voltava no garçom, enchia o copo de novo, saía na cara de alguma goleira incauta e goooooooooooooooool!!!

Depois virei adulto. E as regras mudaram outra vez. O impedimento passou a chegar de 28 em 28 dias, mais ou menos um pouco depois do extremo mau humor da minha esposa. Mas isso é assunto que os velhinhos da FIFA insistem em não debater.

Um comentário:

  1. Marcão, o melhor da escrita é quando é capaz de fazer a gente enxergar o suor tracejando o rosto do protagonista, as mãos numa ansiedade trêmula. E, o mais bacana, quando é capaz de fazer a gente identificar os cheiros. O odor da grama me chegou fresquinho aqui com seus textos. E, o melhor de tudo, incensou a velha horta da memória. Gostei muito, mas muito mesmo. Ah, meu filho tem o joguinho de pregos. Dia desses levo na pelada pra fazermos um duelo.
    Abração do Murta

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