sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Se enamora

Dia desses fui ao show de uma banda de BH que toca música dos anos 80. Chevette Hatch é a banda. O nome em si não me lembra nada, porque meu pai nunca teve um Chevette Hatch. Se a banda se chamasse 'Del Rey que bebe mais que meu tio', 'Fiat Oggi tão feio quanto minha vizinha' ou simplesmente 'Belina Bonina' ia ter mais efeito psicológico em mim. Taí, se eu montar uma banda Anos 80 vai se chamar Belina Bonina. Massa! Ou 'Estribado', como a gente dizia naqueles tempos...

Mas enfim, o Chevette Hatch tocou uma música marcante na minha infância. 'Se enamora', da Turma do Balão Mágico. Trata-se de uma versão em português de um clássico italiano que algum Pepino de Capri ou Sergio Endrigo da vida deve ter feito na hora de uma dor de cotovelo terrível. Ou seja, totalmente proibida para os fedelhos de oito, nove, dez anos de idade, como eu, que estavam começando a pensar em descobrir esta coisa tão complicada que os adultos, há muitos anos, chamam de amor.

Desde quando eu me entendo por gente, eu era apaixonado por uma tal de Carolina. Não é coisa de precocidade, nada disso. Veja bem, se você me entende: um metro e vinte de pura sensualidade, duas trancinhas no cabelo, pirulito de morango na boca, aventalzinho da escola sujo de sopa... ai ai ai, que beleza, não dava pra imaginar coisa mais linda e sexy em 1985. Mas quando eu pensava em chegar perto dela, minhas pernas congelavam. Eu não tinha a frieza do Zico na hora de bater uma falta no Maracanã lotado, poxa.

E aí, a velha vitrolinha da família Astoni ficava o dia inteiro com o LP da Turma do Balão Mágico tocando 'Se enamora'.

Eu só me distraía com o futebol, e era ano de eliminatórias de Copa do Mundo. A injustiça e a safadeza dos deuses do futebol tinham nos levado o troféu em 82, então era só questão de tempo até a Copa do México chegar. Em 1985, todo mundo no Brasil era otimista. Muitos dos que hoje gritam 'Fora Sarney', na época eram fiscais dele, num tal Plano Cruzado. Vai entender esses adultos...

Teve um dia que o Brasil ganhou do Paraguai fora de casa, com um golaço do Zico. E todo mundo falou que a gente já estava na Copa, e que dessa vez não tinha como dar errado. Fiquei mais feliz do que nunca e pensei comigo mesmo: amanhã converso com a Carolina, peço pra ela casar comigo e nossos filhos vão ver o Brasil ser tetra ano que vem.

Ensaiei as frases que ia dizer umas vinte vezes. Treinei sem gaguejar, sem tremer, sem vacilar, olho no olho comigo mesmo, no espelho. Até que chegou a hora. Na escola vi a Carolinha. Olhei pra ela e corri pro banheiro. Passei o resto do ano com medo dela. Puxa vida, me desculpem. Eu tinha nove anos. E não sou o Zico!

Um comentário:

  1. "Na estação da vida não me importo de esperar o trem que um dia vai me levar. Só não se esqueça de amar e perdoar antes do trem chegar".

    BELO TEXTO GAROTO.

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