quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Meus clássicos inesquecíveis

Em um tempo que hoje lamento estar tão distante, me lembro bem de jogar futebol sozinho no quintal da minha casa. Não por falta de amizades ou de companhia para o ludopédio doméstico ou outra brincadeira qualquer. Havia vários amigos na rua de cima, mas, infelizmente (ou talvez não) eles não estavam à minha disposição na hora que eu quisesse jogar um clássico no Mineirão ou disputar um GP em Monte Carlo. Tinha também minha irmã, claro. Eu era sempre um chefe de escritório, cozinheiro ou marido dedicado, mas nunca por mais de meia hora.

O certo é que durante meus minutos diários de solidão na infância, talvez os melhores de toda a minha vida, eu me via sempre num estádio lotado, entre Carlinhos Sabiá, Reinaldo, Éder, Joãozinho, Carlos Alberto Seixas e João Leite. Pra mim, o Mineirão era só meu e naquele instante eu conseguia ser craque, frangueiro, cronista, torcedor e gandula. Tudo ao mesmo tempo. A fantasia é a grande maravilha indecifrável da mente infantil.

Eu me lembro bem da Dona Antônia, que trabalhava na minha velha casa. Ela se escondia atrás de uma parede e assistia aos duelos memoráveis entre Cruzeiros, Atléticos, Flamengos e Interes válidos por Copas Uniões que só existiam na minha cabeça. Numa época em que os rivais tinham Zico e Taffarel era difícil fazer uma final imaginária entre os esquadrões mineiros. Mas ainda assim eu tentava. E meu público adorava. Pra mim, 100 mil pagantes. Na verdade, só a Dona Antônia. E sem pagar ingresso!

Passou o tempo. E até hoje nunca joguei um clássico num Mineirão lotado. Dona Antônia, que mais ria de mim do que propriamente torcia, já não está mais aqui. Meus amigos e minha irmã seguem como meus maiores fãs. E também os que mais me vaiam. Os clássicos imaginários do meu quintal são, até hoje, os melhores jogos que vi na vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário