sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O sabichão

Tinha um moleque na minha sala da terceira série do primário que sabia de cor e salteado a lista dos campeões brasileiros, argentinos, italianos, austríacos e suazilandeses. Campeonatos, Copas, repescagens e tudo mais que pudesse caber numa tabela ou numa enciclopédia.

Naquele longínquo tempo, órfão de Google e Wikipedia, isso era um fenômeno. Tá certo que Suazilândia é uma grande mentira minha, mas admito que os títulos do glorioso Casino Salzburg da Áustria estavam na ponta da língua do guri.

Eu ficava remoendo meu misto de raiva e inveja daquele canalha, que era meu reserva na seleção Sub-9 do colégio. Como alguém podia saber mais de futebol do que eu? Logo eu, que conseguia a proeza de ser ruim em português, matemática, geografia, história, ciências e tudo mais que valia nota, justamente pra ser bom em futebol? A maior injustiça da minha infância era a falta de perguntas sobre o tema nas provas finais.

Por não ter a memória desenvolvida e a cabeça do tamanho de um repolho maduro do meu arqui-inimigo, resolvi desenvolver um outro talento: o de ser especialista em times pequenos Brasil afora.

Uberaba e Valeriodoce passaram a fazer um clássico do tamanho de Milan e Internazionale pra mim. Times com nomes fantásticos como Ribeiro Junqueira, Cardoso Moreira, Moto Clube e Fast não podiam ficar muito tempo longe das minhas atenções.

Aprendi que o XV de Piracicaba foi fundado em 1913, que o ex-presidente Café Filho foi goleiro do Alecrim, que existe Mixto com X nesta vida, e que Olaria é muito mais que uma simples fábrica de tijolos.

O sabichão dos meus tempos de colégio virou professor de física. Futebol pra ele, só de quatro em quatro anos, quando tem Copa do Mundo na TV. E olhe lá! A vida nos distanciou neste assunto, mas nos tornou grandes amigos. Os melhores. Sou padrinho da filha dele, que insisto em presentear com souvenires de futebol. E aqui, cá entre nós, depois de muito insistir, ele finalmente me confessou: era blefe! Até conhecia os times da Itália e da Inglaterra. Mas nunca tinha ouvido falar do tal Casino Salzburg, sobre o qual eu tanto insistia em perguntar. Só tinha achado o nome do time bonito e ponto final!

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