quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Par ou ímpar

Quando você é criança, e joga bola na rua, ninguém é dono do seu passe ou, na linguagem moderna, dos seus direitos federativos. Você joga num time hoje, noutro amanhã e assim vai vivendo seus momentos de craque juvenil no seu bairro. Quando a coisa fica mais séria, você e mais uns seis ou sete compram umas camisas iguais e montam um time qualquer, que, anos mais tarde, nas suas delirantes memórias, vai ser aquele esquadrão imbatível que ficou 10 anos sem perder pros moleques da rua de baixo.

Mas isso é pra poucos. A maioria fica mesmo é nas peladinhas do dia-a-dia. No junta-junta depois da escola, quando o dever de casa já está pronto. Ou não. Chegam 14 pirralhos, é menino que não acaba mais. E o dilema é dividir a turma entre dois times de sete, de modo que a coisa fique equilibrada. Porque ganhar fácil é tão chato quanto tomar uma goleada humilhante.

A solução então é o bom e velho par ou ímpar. Dois jogadores que têm mais ou menos o mesmo talento com a bola nos pés decidem na sorte quem começa a escolher, entre o restante do grupo, os outros seis do seu time. Até hoje tem amigo meu que jura que par ou ímpar não é sorte e que existe ciência exata que explique e técnica que facilite a vitória no jogo. Vá lá...

E é aí que começa o drama. Eu não passei por este constrangimento, graças a Deus. Se nunca fui um Maradona, tinha meus momentos de Careca. Fazia meus golzinhos e raramente não era escolhido até a segunda rodada da montagem dos times. O problema era ver a cara dos amigos que ficavam pra trás. Os jogadores se enfileirando atrás do carinha do par ou ímpar e os pernas-de-pau ficando lá no meio. Todo mundo olhando pra eles com cara de desprezo. Ou dó. Porque nas rodadas finais se escolhe o menos pior, já que os craques estão devidamente entrosados com o resto do time.

Aquilo era humilhante. Mais ou menos como levar o fora da menina querida na hora de dançar a música lenta na festinha americana de sexta-feira.

Teve um dia que eu bati o par ou ímpar e escolhi o Claudão pro meu time. Se ele, que é meu amigo até hoje, ainda é meio bobo, imagina 30 anos atrás! A gente perdeu o jogo feio. Acho que foi 8 a 0, com uns quatro gols contra do Claudão. Mas ele ficou tão feliz em ser o primeiro escolhido no par ou ímpar, que eu me senti como se aquilo tivesse sido uma goleada pra gente.

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