Eu joguei futebol com bola de meia. Com jornal velho embolado num plástico e selado com durex. No meio de uma rua calçada com pedra e em total declive. Uns vinte e cinco moleques embolados correndo sem ordem, caindo, machucando, sangrando os joelhos, enfim, um verdadeiro caos. Mas era bom demais e todas as tardes a gente se reunia no mesmo local pra velha pelada de rua.
Depois o futebolzinho subiu um pouco de nível e passamos a jogar numa quadra que pertencia à Igreja do bairro. Cimentada, cheia de remendos e também em declive. O número de jogadores diminuiu consideravelmente, mas a bagunça continuou em alta escala. Mesmo assim, foram momentos inesquecíveis e várias vidraças quebradas na sala paroquial da Igreja da Pompeia.
Aí chegou a fase dos campos de areia. A moçada já estava na adolescência e quem ia jogar bola sabia jogar direitinho. A organização começou a aparecer, time sem camisa prum lado e time com camisa pro outro. Mas era tanta perna ralada, joelho inchado e músculo distendido que o quórum foi diminuindo aos poucos, mesmo sendo diversão garantida nosso beach soccer mineiro.
Já adultos, os principais problemas não são mais a organização do evento e a integridade física dos atletas, mas sim a disponibilidade de horários para que pelo menos 12 camaradas possam praticar um simples futebolzinho semanal. Ao mesmo tempo e no mesmo lugar, que fique claro! E como tem desculpa pra marmanjo não aparecer: cansaço, viagem de trabalho, faculdade, mulher grávida, filho doente e despedida de solteiro de algum amigo. Essa última é até aceitável, porque geralmente todo mundo vai e a pelada vira a coisa menos importante do dia.
Hoje sinto falta da bola de meia, da quadra no morro e dos campos de areia. São lembranças vivas de grande parte do meu passado. Mas, mais do que isso, sinto falta dos parceiros que fiz jogando bola mundo afora e que não sei por onde andam ou vejo muito pouco hoje em dia. Muitos gols, dribles, caneladas, unhas arrancadas e, sobretudo, bons papos, risadas, churrascos e amizades que sobreviveram à força do tempo. Se existe algum elo de união mais forte que o futebol na vida do homem, ainda não me contaram qual é.
"And in the end, the love you take is equal to the love you make." (Lennon/McCartney)
Amigão, grande texto.
ResponderExcluirEnquanto lia, passava um filme em minha cabeça de tudo isso que também vivi.
Um grande abraço.