domingo, 17 de junho de 2012

A primeira história de amor verdadeiro entre um boleiro e uma Maria Chuteira


Sandrinho sempre foi malandro, no bom sentido da palavra. Jogador de futebol profissional, rodou por vários países da Ásia e da Europa, até voltar ao Brasil e se firmar no time titular do Flamengo, ainda jovem, com 25 anos, e já estabilizado financeiramente. Criado na zona norte carioca, conhecia de cor e salteado todas as armadilhas que a profissão poderia lhe oferecer, mas, cabeça boa, nunca se envolveu com nada que o atrapalhasse ou tirasse seu foco. Ainda que não dispensasse um chopinho e um bom pagode, desde que a agenda permitisse e possível fosse.

Juliana sempre foi linda. Tinha plena consciência disto desde quando os primeiros traços de mulher despertaram na adolescência. Bronzeada em Ipanema, corpinho mignon cuidadosamente malhado, 22 aninhos de malícia, olhos verdes e pele dourada. Filha da classe média do Rio, inglês fluente, alto nível cultural, a loirinha sabia do seu potencial e já tinha definido tudo o que queria para a vida, em termos de luxo e prazer. Tornou-se modelo profissional e participava de alguns desfiles quando estava precisando de um dinheiro extra.

O jogador sabia aproveitar a vida. Quando não tinha compromissos pelo Flamengo, e longe dos olhos da imprensa, Sandrinho sempre descolava uma farra boa, com direito à mulherada de primeira qualidade e muitos parceiros do mundo da bola.

A modelo não era diferente. Tinha a lista de onde a boleirada costumava frequentar. Juju sabia como se vestir, o que falar e o momento exato de entrar no pagode, abalando geral e chamando a atenção.

Sandrinho e Juliana se conheceram em uma festa na cobertura de um zagueiro gaúcho do Fluminense, na Barra da Tijuca. Apresentados por um agente FIFA, que já tinha passado algumas noites com ela, os dois se deram bem de cara. O jogador achou a modelo linda, extrovertida e muito gostosa. A modelo gostou do que viu no jogador. Inteligente, bonitão e discreto.

Viveram uma tórrida noite de amor. A intimidade criada em duas horas de conversa na festa fez com que boleiro e Maria Chuteira se soltassem e se livrassem das máscaras que normalmente usariam nessas ocasiões. Os dois se separaram já com o dia claro, entre beijos apaixonados e promessas de novos encontros.

Sandrinho acordou naquela tarde com uma estranha sensação. Estava bem consigo mesmo, em paz, com uma vibração no peito que há muito não tinha. Pensava na modelo e não conseguia parar de sorrir.

Juliana ainda não tinha dormido. Lembrava-se do jogador com carinho e doçura. Sentia uma agonia estranha, que nunca tinha experimentado em toda a vida. Alguma coisa nele, que ela não sabia explicar, tinha despertado um desejo de ficar perto dele, de uma forma suave e silenciosa.

Sandrinho procurou o celular para ligar para Juliana. Não importava se ele tinha deixado a modelo em casa há menos de cinco horas. Nada importava. Só queria ouvir a voz dela. Dois recados do amigo, o agente FIFA que os apresentara na noite anterior, porém, fizeram com que o jogador mudasse de ideia. Os comentários maldosos do colega sobre a alta ‘rotatividade’ da modelo entre os boleiros frearam os impulsos de Sandrinho.

Juliana estava com o telefone na mão, neste mesmo momento. Enquanto procurava o nome de Sandrinho na agenda, para ligá-lo, foi surpreendida com o agente FIFA tocando o interfone de seu apartamento. A modelo ouviu pacientemente as piadas, nas quais ela era a nova vítima do terrível e inescrupuloso garanhão da Gávea. Esperou o agente sair e, se sentindo mal, decidiu ligar para Sandrinho um pouco mais tarde.

Sandrinho viajou com o Flamengo naquela semana e não telefonou para Juliana. A modelo preferiu esperar que o jogador ligasse e também não tentou entrar em contato com ele.

Juliana demorou tempos para esquecer o cheiro e a voz de Sandrinho. O jogador ainda se lembra do lugar exato da covinha no rosto da modelo quando ela sorri. Nunca mais se viram nem se falaram.

E foi assim então que a primeira história de amor verdadeiro entre um boleiro e uma Maria Chuteira não aconteceu.

Um comentário:

  1. Filhão ... e o livro??? Faça dos textos um livro. Isso é ára "ontem" ! São bons "pra caramba"
    Abraço
    amigoirmão

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