quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não é mais uma história de amor

Esta não é mais uma história de amor. O tema de hoje é futebol. Portanto, se você procura linhas melosas e apaixonadas, sugiro que dê um clique no X aí em cima, bem à direita, extremo nordeste da tela, e navegue por outros cantos. Tá bom, tá bom... talvez alguma coisinha de romance apareça por aqui. Mas bem de leve.

Domingo é dia de futebol. Nada mais natural, então, que juntar os amigos em casa e fazer uma comida legal pra assistir à final do campeonato estadual. O lugar e os times não importam, pode ser em qualquer canto do Brasil. Do mundo também. O amor... quer dizer, o futebol é universal.

Paulão, o dono da casa, convidou o César pro tal almoço dominical, seguido da grande decisão. Ele foi o primeiro a chegar. Não porque é chato, mas porque foi encarregado de fazer a feijoada, prato principal do dia. Cozinheiro de mão cheia, é bom também no preparo da caipirinha. De litros dela, aliás.

Marcinha também foi convidada. Apareceu com a camisa do time querido, bonezinho e bandeira na mão. Mal sabia quem era o camisa 10 do esquadrão, mas isso pouco importava, num jogo tão importante como a final diante do grande rival.

César é viúvo, Marcinha, divorciada. Os dois beirando os 40, com aquela vontade de começar tudo de novo, mas ainda sem coragem de admitir isso pra si mesmo. Ele ainda se recuperando da sua perda, ela comemorando a dela. Os dois com um filho cada, adolescentes. Vida já encaminhada, mas com alguma coisa fora do lugar.

A feijoada estava no jeito. O César adiantou tudo na noite anterior, deu uma guaribada nos ingredientes, fritou o que tinha que fritar, refogou o refogável e calculou tudo numa meticulosidade quase científica.

O ânimo da torcida também. A Marcinha comprou confete, serpetina, vuvuzela, tudo pra dar aquela força pro timão querido. Mas, como é o nome do goleiro mesmo?...

A verdade é que, tanto quanto a Marcinha, o César também não era muito fanático com futebol. A intenção do Paulão era apenas apresentar os dois amigos, coisa que o César só percebeu quando já tinham 20 minutos do primeiro tempo e só ele e a Marcinha estavam meio desligados do jogo, mesmo com toda a folia que os cercava.

A atração entre os dois foi natural. Ela achando graça do avental sujo de feijão dele, e ele da cornetinha barulhenta que ela não parava de soprar. O papo fluiu, um beijo escondido atrás da couve picada e os telefones trocados abafados pelos gritos de gol do nosso dream team.

O tema aqui é futebol, eu já disse. Romance é um mero detalhe. Mas o fato é que o time dos dois foi campeão. Foguetes, festa e música alta. Vuvuzela e água no feijão. Enquanto o resto da turma se abraçava emocionada, Marcinha e César cantavam um pro outro, com aquele gostinho que só os vitoriosos provam:

- É campeão!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Bolinho de feijão

Falar de comida nos estádios de Minas Gerais é automaticamente despertar os sentidos para um apetitoso prato. Paladar, olfato e visão já se atiçam, só ao ouvir o chamado da audição, ao simples pronunciar da expressão ‘feijão tropeiro’.

O tropeirão é lindo. O multicolorido do feijão, a couve viçosa de tão verde, o torresmo crocante e o molho rubro se juntam ao frescor do bife de lombo, numa combinação sem igual. Além de tudo, ele é cheiroso. Uma mistura de aromas que chega perto da perfeição. Tudo isto só poderia resultar num dos pratos mais gostosos da culinária popular brasileira. Servido dentro de um estádio de futebol então...

De tão famoso, o feijão tropeiro do Mineirão virou uma lenda urbana de Belo Horizonte. Atração turística, atrai visitantes de vários lugares do Brasil, além de já ter inspirado outros estádios, interior afora, na cópia da mesma receita.

Mesmo sendo um fervoroso fã do tropeirão, confesso que meu grande fetiche gastronômico do Mineirão era o bolinho de feijão. Desde criança – e olha que isso já faz tempo – me lembro do mesmo vendedor, de jaleco branco e cesta de vime na mão, oferecendo os irresistíveis bolinhos.

O tempo passou, proibiram a cerveja nos estádios, mas o bolinho continuou acompanhando o refrigerante. O interessante é que o vendedor não era credenciado oficialmente, então a gente só o via depois que os portões do Mineirão já estavam abertos para a saída da torcida.

Dizem que o famoso gigante da Pampulha será reaberto em 2013. Duvido muito que o velho vendedor de bolinhos de feijão estará autorizado a vender suas delícias no novo Mineirão, moderno e preparado para receber os estrangeiros consumidores de fast food.

Mas eu sei que vou encontrá-lo em algum lugar fora do perímetro autorizado pelas autoridades. E lá estacionarei minha fome e meus sentidos, para honrar a tradição da minha infância, e me deliciar com os velhos bolinhos de feijão do homem de jaleco branco do Mineirão.


* Para o amigo Felipe Ribeiro, que também é fã do famoso bolinho de feijão

terça-feira, 19 de julho de 2011

O amor

É preciso fazer as coisas na vida com amor. Tudo. Desde a hora em que você acorda até o momento em que vai dormir.

Porque o amor implica sinceridade, honestidade, cumplicidade. O amor é entrega, respeito, união. É gentileza, paz e dedicação. O verdadeiro amor é atencioso, leal e corajoso.

O amor te dá vontade de proteger, cuidar, amparar. Quando você ama, você sonha, planeja, projeta. Você contempla, admira, venera. Você sente vontade de rir, festejar, celebrar.

Mas o amor necessita paixão. Porque sem paixão o amor adormece. E fica fraco até morrer. A paixão é a vontade de estar perto e a energia que te faz beijar, morder, transar e gozar.

E é assim em tudo na vida. Escola, trabalho, família, amigos. Em todas as ocasiões e relacionamentos, se não houver paixão e amor, tudo fica sem graça. Com o futebol não é diferente, é claro.

Veja bem esta seleção do Uruguai, que disputa a Copa América. Está longe de ser o melhor time do mundo. Seus jogadores idem. Talentosos e esforçados sim, mas não a ponto de entrarem para a lista de Pelé, Maradona, Zidane e Beckenbauer. Mas a Celeste Olímpica joga com o maior coração do mundo, e isto faz a diferença.

Os jogadores uruguaios em campo são o exemplo do amor mais puro e verdadeiro. São a mãe que deixa de comer para alimentar os filhos e o pai que trabalha até não aguentar mais para que suas crianças tenham estudo e conforto.

O Uruguai é aquele homem que ama, é leal, fiel e tarado, e sabe dar a uma mulher o que ela precisa na cama e fora dela.

Dá gosto ver a Celeste em campo. Muito antes de admirar o futebol voluntarioso e cheio de raça, o que fica de lição para todos nós, amantes, é como jogar e viver com amor.

Porque é preciso fazer as coisas com amor. Da hora em que o jogo começa até o apito final.

O clássico das praias

Por Cássio Arreguy*


Era uma tarde ensolarada de sábado em Santos. Um calor litorâneo, inclemente, sem pátria. Movido pela paixão ao bom e velho ludopédio, larguei mão dos afazeres diversos e satisfeito fui com meu amigo Marcão ao Ulrico Mursa, palco de um confronto cheio de história e de simbolismos, o famoso “Clássico das Praias”.

De um lado a anfitriã Portuguesa Santista, a lusinha, Briosa pros íntimos, representante portuguesa daquela outrora pacata vila de pescadores. Como visitante, o aguerrido e teimoso sobrevivente Jabaquara, o Jabuca, orgulho dos espanhóis que o fundaram com o nome de Hespanha para lembrar da terra natal.

No velho estádio, os dois rivais se perfilam para a execução do hino brasileiro. Com respeito, todos ouvem atentamente, mas a ansiedade não dava margem a demoras. Mal acabou a solene abertura do evento e a pequena e valente torcida visitante, reforçada pelos dois mineiros ludopédicos, bradou orgulhosamente suas músicas e provocações. Na cidade onde quem dá bola é o time de Neymar e Ganso, sob a sombra de Pelé e companhia, ainda há espaço para que dois antigos adversários escrevam mais um capítulo de uma suada e ingrata sobrevivência.

Ostentando as cores da bandeira espanhola, o Jabuca já foi considerado o adversário mais temido e ferrenho do vizinho e poderosíssimo Santos, com todas as suas estrelas. Pelé, Coutinho, Zito, Pagão, Mengálvio, todos tremiam ante a feroz e dedicada equipe de Getúlio, Melão, Célio, Ramiro e Feijó. Pouco importa se a maior goleada imposta ao peixe foi há mais de 50 anos. A claque jabucarina não silenciou um minuto sequer da peleja. Refrões e rimas sempre aludiam aos adversários. Manoel, Joaquim, padeiro, bacalhau, tudo servia de mote para a criatividade provocadora dos adeptos do Leão da Caneleira. A revolta pelo “descaso” dos portugas, que cobraram 20 reais dos pobres torcedores do Jabuca, inclusive das crianças (!) serviu apenas para alimentar ainda mais a fúria dos ‘espanhóis”. Seu Hilário Garcia (óbvio), torcedor símbolo jabaquarense, de 70 anos, aproximadamente, vestido dos pés à cabeça com o rubro-amarelo e sotaque bem carregado, descarregou impropérios diversos pelo que considerava uma covardia típica dos patrícios.

Na “guerra” ibérica que presenciamos, o campo de jogo era o Tratado de Tordesilhas para dividir as colônias. Mesmo em maioria, os briosos torcedores lusinos se calaram diante do barulho dos súditos do rei Juan Carlos. O bastante para contagiar os intrusos forasteiros mineiros, que aderiram àquele sincero e comovente exército de brancaleone no desafio aos poderosos. O resultado final, 3 a 1 para a Portuguesa, mostrou superioridade de uma equipe mais bem preparada e estruturada, mas não foi capaz de apagar o entusiasmo e a devoção dos 80 abnegados (sim, eu contei), que sofreram por causa do calor e do pouco futebol. Para nós, foi mais uma demonstração do quanto significa o velho ludopédio.


* Cássio Arreguy é um sujeito inteligente, divertido e de um humor afiado. Além de meu amigo, é jornalista e assessor de imprensa do Atlético-MG.

domingo, 17 de julho de 2011

O bolero do pênalti perdido – parte II

Passei uns dias fora de casa nas últimas semanas, numa viagem de trabalho. Voltei pra BH neste domingo e cheguei a tempo de ver o jogo da seleção brasileira contra a paraguaia, pela Copa América.

Liguei pra uma meia dúzia de três ou quatro amigos e nenhum pôde – ou quis – me acompanhar no futebol etílico de fim de tarde. Somei isto ao longo tempo de solidão, aos problemas cotidianos e às contas atrasadas, e fui fazer o que sei de melhor: beber sozinho num boteco escuro qualquer.

Parei pra assistir ao jogo, com mais interesse no conteúdo do copo e na gente estranha do lugar do que no futebol propriamente dito. E eis que o resto do dia iria se revelar mais interessante do que eu jamais poderia supor.

Seu time perder um pênalti numa partida de futebol é normal. Dois já é abuso. Três é um absurdo total. Desperdiçar quatro cobranças então, em menos de cinco minutos, é coisa que beira o caos e as raias do inimaginável. Pois não foi exatamente isto que aconteceu com o Brasil?

Não que eu estivesse torcendo demais pra seleção ou concentrado na inglória peleja, mas o fato é que perder daquela forma mexeu comigo e com meus novos amigos da bizarra espelunca em que eu havia me metido.

O dono do bar tratou logo de desligar a TV e chamar a atenção para um show que iria começar em breve, num decrépito palco, que eu ainda não havia reparado, localizado nos fundos da casa.

A orquestra – peco aqui pelo exagero, já que eram apenas três os músicos septuagenários – tocou durante duas horas, sem parar. Figuras das mais estranhas possíveis deixaram de lado o dia-a-dia obscuro, miserável e torturante, para se entregar à dança, como se aquilo fosse a última coisa que os restasse.

Eu permaneci onde estava. Observando tudo e lamentando a sorte dos pobres infelizes ali. Não menos desafortunada que a minha, é claro. Até que criei coragem e pedi ao crooner para cantar uma canção.

Pedido atendido, enchi o pulmão para homenagear o grande Waldick Soriano. Desafinado, fora do compasso e cambaleante, percebi que todo aquele vexame não seria em vão, quando um senhor magro, quase esquelético, terno surrado, flor na lapela, convidou uma dama encardida, pálida e solitária, para aquela contradança.

Olhos nos olhos, mãos apertadas, e depois os rostos colados. Os dois cantando baixinho, ao som da canção que eu roucamente castigava. Até que veio o beijo. E a sensação de que nada daquilo tinha sido em vão. A bebedeira, o vexame, os pênaltis perdidos pela seleção.

Por mais maldita que estivesse sendo minha existência naquele dia, o beijo apaixonado ao som do meu bolero, serviu para me acalmar, me dar paz e me fazer seguir para o próximo copo com a estranha sensação de dever cumprido.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O golaço

Não sou muito de me gabar dos meus feitos, mas algumas coisas não podem passar impunemente pela história, sem que todos os meus amigos saibam. Como o gol que fiz no Maracanã, por exemplo. Sim, no Estádio Mário Filho, no Rio de Janeiro. Sem truques, é tudo verdade!

Em 2008, eu estava na capital carioca, trabalhando em um jornal de lá. Fui escalado para a cobertura do jogo beneficente que o Zico organiza todo ano, no Maracanã. Fiquei todo empolgado, claro, ainda mais porque o convidado de honra da festa naquele ano era ninguém menos que Diego Armando Maradona.

Mesmo sendo um evento beneficente, jogo festivo e coisa e tal, era muito excitante ver Maradona, Zico, Ronaldinho Gaúcho, Júnior, Roberto Dinamite, Romário, Bebeto e Ronaldo Fenômeno reunidos no mesmo gramado. Era como jogo de botão ou playstation, todos os craques juntos na mesma partida.

Terminou o primeiro tempo, o placar não me lembro e pouco importa. Tirei umas fotos com o celular, fiz algumas entrevistas e vi bem de perto quando Gabriel, o Pensador, se queixou de uma dor na coxa. O treinador do time azul, o que tinha Zico e Maradona, reclamou em voz alta e ficou se perguntando onde ia achar alguém pra entrar em campo àquela altura do campeonato. Olhou pra mim e esbravejou:

- Joga bola, gordinho?

- Jogo. Já fui profissional na minha terra - menti descaradamente.

- Então vem comigo.

O mal-humorado me deu chuteira e unifome completo e, mesmo desconfiando da minha silhueta, me mandou pro campo. Sem truques, é tudo verdade!

Estar ali já era um feito e tanto. Uma façanha monstruosa. História pra contar pra todo mundo que conheço. Lembro-me bem da cara que o Zico fez quando me viu ao lado dele, pedindo bola. Não foi de desaprovação nem nada. Acho até que foi de alívio, porque o Pensador não era mais do time dele.

O jogo ia seguindo, eu tinha tocado na bola umas duas ou três vezes só. Mas já tinha pedido autógrafo pro Mauro Galvão, batido papo com o Careca e dado dois tapas na careca do Júnior Baiano. Sem truques, é tudo verdade!

Até que Maradona recebeu a bola no meio. Driblou Piazza e Beckenbauer e tocou pro Zico. Com uma ginga de corpo, o Galinho de Quintino tirou Passarella e Maldini da jogada e lançou a bola pra mim. Eu não me assustei com o Maracanã lotado. Matei no peito, dei um lençol no Gamarra e um leve toque de cobertura sobre o Dino Zoff. Golaço! A multidão veio ao delírio. Milhares, talvez milhões, gritaram o meu nome naquela hora. Até que o despertador tocou e eu acordei.

Sem truques. É tudo verdade! Eu tive este sonho mesmo!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Matilda

Hoje joguei um tênis velho fora. Já estava surrado o coitado. Desbotado, sem costuras, abrindo nas laterais. Coloquei o arremedo do que um dia foi meu objeto de desejo dentro da lixeira e voltei pros meus afazares rotineiros.

Até que me lembrei do dia em que fui jogar fora minha primeira chuteira, e comecei a viajar no tempo. Sinceramente, eu não sei porque ainda guardo essas coisas na memória, mas enfim...

Depois de alguns bons anos usando uma chuteira preta, de couro curtido e travas de ferro, chegou a hora de jogá-la fora. Foram inúmeras partidas, gols, tropeços, quedas, chutes e furadas com a velha companheira. Sob chuva e sol. De manhã, de tarde e à noite. Tinha até nome a primeira chuteira: Matilda!

Minha chuteira era o primeiro artigo a entrar na mochila quando eu viajava. O carinho por ela era imenso. Depois de usada, ela era devidamente limpa, engraxada e guardada na caixa original, dentro de um armário vigiado 24 horas por dia.

Como eu disse, ela era de couro curtido e travas de ferro. Só isso. Nada de tecnologia de ponta, revestimento na sola, material sintético, palmilhas e travas substituíveis. Nada disso! Pensando bem, ela até machucava meu pé, de tão tosca. Mas não tinha problema. Matilda foi a minha primeira chuteira, presente do meu querido avô, e minha companheira nos meus primeiros chutes mundo afora.

Lembro-me bem da hora em que fui jogar a velha amiga na lata de lixo. A substituta já estava lá, como a cantar o réquiem da veterana que jazia. A nova era colorida, moderna, cheia de coisas estranhas e inúteis, mas não conseguia me passar aquela cumplicidade e aquele ar de confiança, que eu tanto tinha com a Matilda.

O fato é que não tive coragem de me desfazer dela. Até hoje Matilda reina soberana num canto de armário da velha casa dos meus pais. Não aceito que me chamem de materialista. Saudosista, talvez sim...

sábado, 9 de julho de 2011

Ela

Foge não. Vem cá.
Manhosa, dengosa, gostosa...
Perdoa se eu te tratei mal
Como eu te perdoei quando ficaste longe de mim
E esqueci quando aceitaste outros carinhos
Diferentes dos meus...

Volta aqui. Te assenta.
Quieta, obediente, temerosa...
Vou cuidar de ti
Te fazer gloriosa, o centro das atenções
Impávida, absoluta, orgulhosa
Todos os olhares do mundo ao teu redor...

Não vivo sem ti
Graciosa, iluminada, perfeita
Jamais te troquei desde o dia em que te vi pela primeira vez
És meu grande amor
E nunca vou te abandonar
Oh minha bola de futebol.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Coisas que nunca mudam

Olha, não adianta fugir. Se você é homem de verdade, você vai gostar da mesma menina, dos mesmos amigos e do mesmo time de futebol pra sempre. É isso mesmo, eternamente.

É claro que podem surgir outras meninas ao longo da sua vida. Talvez até mais lindas, mais inteligentes e mais divertidas. Mas nunca do jeito dela. Se não deu certo com a danada, fazer o quê? Sei lá, vocês não moram mais na mesma cidade, no mesmo estado, no mesmo país. Ela se casou com um astronauta enquanto vocês não estavam juntos. Você virou pescador no Alaska e ela domadora de elefantes no Sudão. Fazer o quê? Não deu...

Pode ser que surjam novos amigos. É até bom que eles apareçam mesmo. Da faculdade, do trabalho, a nova vizinhança. Vocês talvez viajem juntos, coloquem os filhos na mesma escola, quem sabe até plantem duas ou três árvores num evento social. Mas você sabe que nunca vai contar aquela sua fraqueza secreta pra esse amigo novo. Aquela nota de cinco que você pegou escondido na carteira do seu pai uns quinze anos atrás. Aquela doença falsa pra escapar da prova final de trigonometria. Aqueles gases que se revelaram líquidos na hora mais imprópria...

Mas o time de futebol é pra sempre. Homem que é homem sabe disso. Você até pode experimentar novas meninas e outros amigos. Mas a simples ideia de um novo time te causa repulsa, não é? Não tem como fugir. E nem adianta tentar. Você sabe que seu pedido secreto no aniversário de 70 anos vai ser comemorar um título de Libertadores com os amigos e ela ao lado. Sim, ela. Aquela danada...