segunda-feira, 30 de abril de 2012

As novas coletivas

As entrevistas coletivas com jogadores e técnicos de futebol são muito chatas. Como jornalista esportivo, eu tenho que admitir. É verdade que os boleiros não conseguem fugir do feijão com arroz nas respostas, mas nossas perguntas também são entediantes e sem inspiração.

Assim sendo, a monotonia impera nas coletivas. Com os jogadores loucos pra escapar do que é uma tortura para a grande maioria e os repórteres sossegados por conseguirem as falas que precisavam para encaixar em suas matérias.

Mas, eu fico pensando. E se um repórter maluco aparecesse um dia em algum clube e começasse a inovar nas perguntas? Como seria a reação da boleirada? E dos companheiros de imprensa? Não dá pra saber, mas, me colocando na pele do inovador jornalista, proponho algumas questões que poderiam aparecer em futuras entrevistas.

- Você acredita que a guerra civil é o melhor caminho para a conquista da democracia?

- Você curte cinema pornô sueco?

- Qual a sua avalição do governo Dilma?

- Por que o arco-íris tem sete cores?

- Você já pensou em cometer um genocídio?

- Você usa pantufas rosas após um treino puxado na lama?

- Você doaria 10% do seu salário para uma instituição satanista?

- Há vida em Marte?

- Em algum momento no seu passado, você já pensou em ser transformista?

- Qual o verdadeiro sentido da vida? Quem somos nós? De onde viemos e pra onde vamos?

- Você acha que devo fazer faculdade ou comprar uma motocicleta?

- Na sua concepção transcendental do universo, o cosmos tem energia própria?

- Quem matou Salomão Ayalla?

- Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

- O gato ou o Quico?

- Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?

- Você mataria por amor?

- Qual a maior temperatura já registrada na Terra?

- Você já comeu carne humana?

- Qual a melhor forma de propulsão para foguetes espaciais?


Bom, se os jogadores iriam entrar ou não no clima, eu não sei responder. Mas que as entrevistas coletivas seriam bem mais divertidas, eu não tenho dúvida!


Para o amigão Diogo Finelli

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A bailarina


A menina sonhava ser bailarina
E de tanto querer
Sonhou, sonhou e sonhou
Até que um dia
O querer foi tanto
Que o sonho se tornou realidade

A menina dançou com o príncipe mais lindo
No castelo mais alto
Do mais encantado dos reinos

E dançou, dançou, dançou
Sonhou, sonhos e sonhou
Até que um dia
De tanto dançar
A bailarina virou mulher

A menina hoje é jornalista
E mesmo que já não dance mais como antes
A bailarina nunca deixou de
Sonhar, sonhar e sonhar.


Para minha amiga Ludymilla Sá, bailarina e jornalista

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um conto infantil

Parte I – Dr. Paçoca e Paulinho

O melhor amigo do Paulinho era o Dr. Paçoca. E este foi, talvez em toda a história das grandes parcerias, o único caso em que uma amizade na qual a idade de um é a raiz quadrada da do outro não causou problemas nem desconfianças.

Como todo garoto de oito anos, Paulinho era esperto, inquieto e muito curioso. Gostava de jogar bola e, como a maioria dos meninos de sua idade, queria ser jogador de futebol. Na vida tranquila do interior de Minas, depois da aula, entre uma pelada e outra pela rua, sempre achava tempo pra dar um pulo na casa do Dr. Paçoca.

Como todo cientista maluco, Dr. Paçoca tinha longos cabelos brancos e óculos de lentes finas pendentes na ponta do nariz. Viúvo há muitos anos, usava um jaleco branco e vivia entre livros e um laboratório repleto de invenções. Era considerado gênio por alguns, excêntrico por outros, e muito louco para a grande maioria, já que morava sozinho desde que a esposa morreu.

O fato é que Paulinho e Dr. Paçoca criaram uma afinidade natural. Paçoca era o único que tinha paciência para as infinitas perguntas de Paulinho. Ou alguém mais, além do cientista, sabe explicar porque inventaram a bolinha de gude? E somente Paulinho acreditava que os inventos de Paçoca pudessem funcionar um dia. Ou quem mais pode acreditar, tirando o garoto, que o tradutor da linguagem dos cachorros realmente só trabalha com pilhas alcalinas?

A vida seguiu assim, por um bom tempo. Paulinho teve respostas para todos os seus porquês, comos, ondes e quens, enquanto Dr. Paçoca pôde contar com um amigo leal para testar produtos como os óculos trocadores de cores, o catador elétrico de feijão roxinho e o revolucionário amarrador automático de cadarço de chuteiras. (Este último fez Paulinho se atrasar para um jogo do campeonato da escola, mas ele preferiu não se queixar com o amigo). 


Parte II – A máquina do tempo 


Até que chegou o dia em que Dr. Paçoca finalizou aquele que ele mesmo considerou o invento mais importante de sua vida: uma máquina do tempo! Paulinho, como fiel escudeiro do professor de tantas ideias, viu com os próprios olhos, abobalhado, que a engenhoca realmente funcionava!

O entusiasmo dos dois amigos era evidente. Primeiro porque a máquina do tempo tinha mais utilidade prática do que o descascador de mexerica. E depois porque as viagens para o passado estavam acontecendo de verdade.

Dr. Paçoca não abandonou seus métodos científicos no trabalho. E também não podou as asas da imaginação do pequeno amigo. Por isso, combinou com ele algumas regras básicas que teriam que ser cumpridas na utilização da Máquina do Tempo®, agora com marca registrada e tudo!

1 – O invento só poderia ser usado para fazer boas ações coletivas, nunca o mal.
2 – Nenhum dos dois poderia contar sobre a Máquina do Tempo® para ninguém.
3 – As mudanças no passado não poderiam causar benefícios pessoais exclusivos para os dois no tempo presente. 


Parte III – O passado 


Para Paulinho, aquilo não fazia a menor diferença. Além de não ter a mínima intenção de fazer mal a ninguém, o simples fato de ver dinossauros de verdade de perto era maravilhoso.  A segunda regra o incomodava ligeiramente, já que não podia falar sobre suas aventuras com os amigos, mas o preço era justo para ter uma experiência tão fantástica.

Dr. Paçoca passou os primeiros dias embasbacado com sua própria capacidade inventiva. Visitou seus ancestrais na Baviera, conheceu os Incas e Maias, e foi conferir de perto a tática de guerra usada por Gengis Khan na Mongólia.

Depois de muitas viagens contemplativas, chegou o dia em Dr. Paçoca disse a Paulinho que era a hora de mudar as coisas ruins que não gostavam no passado, obedecendo, é claro, o regulamento vigente.

Os amigos pensaram muito e depois de algumas idas e vindas com a Máquina do Tempo® mudaram alguns aspectos históricos, dois cada um, e os deixaram da maneira que conhecemos hoje.

- O mundo só terá duas guerras mundiais, e não onze como antes.
- Albert Einstein morrerá aos 76 anos, e não aos 12 como antes.
- O Brasil será cinco vezes campeão mundial de futebol, e não apenas uma como antes.
- Pelé nascerá brasileiro, e não argentino como antes. 


Parte IV – O fim da Máquina do Tempo® 


Após as mudanças realizadas na história, tanto Paçoca quanto Paulinho sentiram que poderiam ter feito ações mais significativas, mas o medo do invento cair em mãos erradas acabou falando mais alto e o cientista incinerou a Máquina do Tempo® e pôs fim ao poder que tinham, definitivamente.

Já conformado em não poder mais brincar com os tiranossauros nem ver os pterodátilos voando, Paulinho fez as últimas perguntas ao cabisbaixo e soturno Dr. Paçoca:

- Por que o senhor não trouxe de volta sua esposa?
- Porque estava nas regras. Nada de benefícios pessoais.
- Mas foi o senhor mesmo quem fez as regras.
- Sim, meu amigo. Eu sei. Cuide do seu presente. Porque no passado, existem coisas que nem mesmo uma máquina do tempo pode mudar.

Com o olhar triste, Dr. Paçoca deixou o amigo Paulinho vendo as chamas acabarem com o maior feito de sua carreira. As palavras do velho mestre nunca mais deixaram a memória do garoto. E serviram como lição eterna.

- Tem coisas que nem uma máquina do tempo pode mudar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O gaúcho de Belo Horizonte

* Por Hércules Santos


São histórias como essa que me fazem ter um orgulho típico do gaúcho por morar em Belo Horizonte. O povo do sul do Brasil, especialmente o porto-alegrense, defende com todas as forças as tradições, costumes e até manias típicas da terra do bom churrasco. Alguns se excedem e pedem a transformação do estado, bem como da região, em outro país. O que fica de bom é o orgulho de ser filho do Rio Grande, tchê, e isso emociona quem valoriza as raízes.

Numa viagem à capital gaúcha, entro no táxi e mando o tradicional bom dia, sempre imaginando que aqueles 15 minutos até o aeroporto possam ser de bom papo com as ótimas histórias contadas por taxistas. Eles sempre têm algo de bom para nos tirar do mundo real e viajar antes da viagem real. Sem muito assunto eu lanço a frase:

- O dia está bem bonito aqui hoje, hein? Até ontem foram dias de céu nublado. Na minha cidade, Belo Horizonte também está muito frio, mas agora está melhorando.

- O quê, você é de Belo Horizonte? Pergunta o taxista. Pois eu tenho uma dívida de gratidão com sua cidade, guri. Passei três anos maravilhosos por lá e recuperei meu filho que sofria de asma.

Nesse momento percebi a emoção do Sr. Sérgio, que confessou ficar arrepiado.

- Talvez você não tivesse nascido ainda, mas entre 1979 e 1982 me mudei pra lá por recomendação médica e toda vez que encontro algum conterrâneo seu tenho que agradecer e contar a história.

Estava aí. Em menos de cinco minutos consegui o que queria: um bom papo para o trajeto até o aeroporto Salgado Filho.

- Meu filho nasceu com asma. Você conhece?

- Sim, conheço.

- Então o médico me disse que teria de sair da umidade de Porto Alegre e me receitou mudar para Belo Horizonte. Nenhuma cidade a mais. Belo Horizonte era o remédio. Então, minha esposa, que era funcionária pública federal, conseguiu transferência e nos mudamos para lá.

A parte mais emocionante dessa história foi o relato dos momentos em que Sérgio levava o filho para o parque das Mangabeiras.

- Ainda existe?

- Sim - digo.

O taxista que implorava pela recuperação do filho revelou que passava horas com o bebê no colo massageando os pulmões para que o simples ar de nossa terra curasse o garoto, ou melhor, o guri. A emoção foi aumentando, e os olhos daquele senhor com ar experiente e feliz chegaram a ficar marejados de lágrimas por causa da recuperação do filho. Ele conta que o garoto hoje está com 35 anos e faz mergulho, pega peixe com a unha e goza de muita saúde.

- Tudo por causa da sua cidade, senhor!

A parte triste do relato é a volta pra casa. Primeiro porque Sérgio queria permanecer em BH, depois porque fez muitos amigos e finalmente porque envolveu a perda de uma outra pessoa muito querida por ele: a esposa. O pai de sua esposa também faleceu e depois aquela que passou por muitos momentos felizes ao lado do Sr. Sérgio. Durante os 15 minutos do trajeto até o aeroporto, o taxista também teceu vários elogios à esposa, que por muitas vezes, principalmente em Belo Horizonte, foi a base financeira da família, tendo em vista as dificuldades do nosso personagem em conseguir emprego na capital dos mineiros.

Em toda a vida, toda história é feita de bons e maus momentos e, felizmente, nesse caso, o que prevaleceu foi a parte afetiva, o carinho e o sentimento que o gaúcho não fez questão nenhuma de esconder.


* Hércules Santos é narrador da Rádio Globo Minas, guitarrista e vocalista da Banda Plug! e amigo da melhor qualidade.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Para nossa alegria

O mundo mudou. Nossas vidas mudaram. E o jeito da gente se comunicar também não é mais o mesmo. Aliás, isto é o que está mais diferente de tudo o que a gente conhecia antes. Muito mais nos últimos 10 anos do que em toda a existência da humanidade.

Não vou perder tempo aqui falando sobre os detalhes das várias tecnologias que permitem ao homem moderno namorar, pedir uma pizza ou comprar um abajour chinês numa loja da Macedônia, sem ao menos sair do conforto da sala de sua casa. Se você não sabe que pode fazer essas coisas, é bom que pare de ler este texto agora. Até porque aqui ainda não há nada de novo.

Luísa voltou do Canadá. Para nossa alegria. E mesmo que ela esteja fazendo isto errado, é bem provável que se case com Jeremias, muito louco, sob pena de tomar um cacete de agulha do Chuck Norris. A carruagem que vai levá-la até a igreja será puxada por pôneis malditos, porque hoje é dia de rock, bebê! E as mina pira com esse som.

Cansada de tanto procurar o chip de seu amigo Pedro, Luísa foi dar um tapa na pantera. E depois de fazer a dança do quadrado, comeu um sanduíche íche, olhando pras árvores, que somos nozes. E antes que sua irmã Cláudia falasse qualquer coisa, mandou que ela se sentasse lá.

É isso aí, 2012, você decide! Ou manda um scrap pros jurássicos Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Kaká, ou curte os modeníssimos Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi, com o polegar pra cima e compartilhando tudo com o mundo todo.

Continua sem entender nada? Isso é problema seu. Para nossa alegria.



*Com a valorosa ajuda de Lilian Fernandes e Igor Assunção