Uma das imagens mais marcantes e lembradas da Copa do Mundo de 1994 é a do abraço entre Pelé e Galvão Bueno, na tribuna de imprensa do Rose Bowl, após o pênalti perdido por Roberto Baggio, que deu o título ao Brasil, sob o escaldante sol da Califórnia. É fácil fechar os olhos, ainda hoje, lembrar-se da cena, e ouvir o narrador da TV Globo gritando ao fundo:
- É tetra! É tetra! É tetra!
Não é de se estranhar que os dois respeitados cidadãos tenham perdido as estribeiras e saído de si no momento. Afinal, a seleção brasileira não ganhava uma Copa há 24 anos, quando um deles ainda era um jovem com planos ambiciosos, e o outro, o principal responsável por aquela conquista.
Narração igualmente emocionante foi a de Luciano do Valle. Na hora exata em que o italiano budista chutou o pênalti por cima das traves de Taffarel, o campineiro da Band começou a gritar:
- Brasil campeão do mundo! Brasil campeão do mundo!
Alguns não entenderam o porquê de Luciano não mencionar o tetra no momento da explosão do título. Mas eu lembro bem o motivo. Alguns dias antes, a seleção feminina de basquete havia conquistado o campeonato mundial, na Austrália, comandada por Paula e Hortência, e na transmissão, o narrador gritou a mesma frase.
Num programa depois do jogo, Luciano do Valle contou a história de um jornalista colombiano, que o perguntou sobre a emoção de falar o nome de seu país seguido da expressão ‘campeão do mundo’, algo que nunca havia sido feito na terra vizinha, em nenhum esporte coletivo. Luciano disse que o bordão tinha saído naturalmente e que esperava repeti-lo na Copa do Mundo de futebol, que se aproximava.
O Brasil faturou o tetra, Galvão abraçou Pelé, Luciano se lembrou do amigo da Colômbia, e o resto é história. Eu confesso que só prestei atenção no que os dois famosos narradores falaram ao rever o jogo, alguns dias depois, nos dois canais e várias vezes. No momento exato em que Baggio isolou a bola, eu também devo ter gritado alguma frase linda. Sem estar abraçado com um ídolo eterno e nem me lembrado de um colega estrangeiro. Mas, nem por isso, com menos emoção.
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