Diego ouviu uma frase de seu pai, há muito tempo, que marcou sua vida. Ele tinha uns cinco ou seis anos, no máximo, e o que o pai disse, meio em tom de brincadeira, ficou marcado na cabeça do garoto para sempre.
- Um homem de verdade tem que plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.
Não que aquilo tivesse se tornado uma obsessão para o jovem Diego, mas, de tempos em tempos, ele se lembrava da voz tranquila do seu velho repetindo o tripé das missões masculinas no planeta. Na verdade, era uma frase conhecida e falada em todos os cantos. Mas o dito, mesmo que não parecesse uma tarefa tão difícil assim, às vezes tirava o sono do moleque.
Ele, então, tratou de preparar o terreno para cumprir suas obrigações de homem, ainda que não pudesse realizar todas ao mesmo tempo. Diego tinha 15 anos àquela época, e plena consciência de que não era hora de ter um filho. Mas, as questões da árvore e do livro tinham como serem resolvidas.
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Para tanto, chamou um velho amigo. Velho mesmo. No sentido literal da palavra. Seu Pedrinho da Feira já tinha passado dos 80, mas isto não o impedia de manter com o jovem Diego uma amizade muito especial.
O antigo professor de literatura dos pais de Diego indicava livros e discos para o garoto que, entre as peladas e brincadeiras com os netos de Seu Pedrinho, ensinava o companheiro a jogar War. É isso mesmo! Seu Pedrinho adorava o jogo de tabuleiro, que o lembrava as guerras mundiais que tinha acompanhado pelo rádio e pelos jornais de sua época.
Assim sendo, ficou fácil. Seu Pedrinho arranjou umas sementes de goiabeira e Diego logo escolheu um cantinho no terreiro da casa do amigo para plantar sua árvore. Selecionaram, com cuidados militares, um lugar estratégico, entre Aral e Omsk, e a goiabeira logo foi tomando corpo de árvore decente.
Com o livro foi um pouco mais complicado, mas nada que os dois não dessem conta de resolver. Diego escrevia poesias e crônicas sobre seu cotidiano e Seu Pedrinho ia juntando tudo, corrigindo uma coisa aqui e outra ali, até que o catatau contabilizou mais de 400 páginas.
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O tempo passou e Diego se formou em jornalismo. Virou correspondente de uma revista brasileira em Londres. Passou seis anos na Inglaterra. Sem nunca se esquecer das suas promessas. Faltava o filho, é claro!
Conheceu uma francesa. Linda, inteligente, divertida. Tudo aquilo que Diego sonhava e imaginava em uma mulher. Pensava que com ela teria o filho que completaria a vida do casal e sua missão na Terra. Telefonou para contar a novidade para Seu Pedrinho. Mas, no mesmo dia em que ficou sabendo da morte do melhor amigo, a namorada francesa foi embora com um marroquino. E o que restou para Diego foi voltar para o Brasil.
Chegando em casa, percebeu que sua tristeza ainda poderia aumentar, ao ver que a chácara do velho companheiro Pedrinho havia sido demolida. Junto com sua goiabeira. Os manuscritos do livro também se perderam. Ninguém dava notícia do baú de Seu Pedrinho, que, consumido pelo Alzheimer, já não falava coisa com coisa, antes da morte.
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Enquanto separava, com os dedos preguiçosos, umas sementes de goiabeira que tinha acabado de comprar, Diego olhava, da janela da casa dos pais, as máquinas que construíam um edifício gigante onde antes era a casa de Pedrinho da Feira. Não sentia nenhum tipo de nostalgia ou algo semelhante. Estava feliz por ter sido leal com o amigo durante todo o tempo em que conviveram. Pensava no futuro. E imaginava o conteúdo e o título do novo livro que ia escrever. E, ainda que não tivesse cabeça pra pensar nessas coisas naquela hora, sabia que ia encontrar a garota certa pra ter o filho que tanto queria. O negócio é esse mesmo, como tantas vezes tinha lhe dito Seu Pedrinho:
-Paciência pra conquistar a Oceânia, entrando lá por Vladisvostok. E estratégia pra recomeçar!
Para meu amigo Diego Vidal, que tantas vezes nesta vida teve que recomeçar.
Marcão, você é um safado maldito. Me fez chorar que nem criança agora
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