Estatística é uma matéria que, por motivos óbvios, faz parte da grade curricular do curso de jornalismo. E que, por motivos mais óbvios ainda, tem um índice gigantesco de reprovação. A explicação mais fácil de aceitar é que estudantes de jornalismo não levam muito jeito com números e dados. Tudo bem, vá lá!
O problema começa quando, já formados, os profissionais chegam às redações. Como tabelas com estatísticas, proporções, variáveis e médias são traumáticas, há muito tempo, cada um dá um jeito de se virar com elas como pode.
- ‘Brasil desperdiça 40% da água destinada ao consumo humano’.
- ‘Três quartos da população mundial abaixo da linha da pobreza vivem na África’.
- ‘Aluguel em BH sobe duas vezes mais que a inflação’.
As três manchetes são verdadeiras, tristes e sem graça. Quando um jornalista recebe dados como estes, deve estudar suas causas, propor soluções para os problemas, e apresentar os fatos a seus leitores. Quanto aos números, não há nada a fazer, a não ser publicá-los, já que eles são frios, imutáveis e impessoais.
No futebol, entretanto, tudo pode ser diferente. Não que os jornalistas esportivos sejam mentirosos ou mal-intencionados, muito pelo contrário. Os números é que permitem várias formas de serem expostos para as fanáticas torcidas mundo afora. Sem nenhum tipo de mentira. O diferente aqui é a forma de interpretá-los. Vamos a alguns exemplos.
- Zezinho Bambu, virtuoso atacante do Arranca Toco Futebol Clube, tem média de um gol por jogo contra o Esmaga Sapo Esporte Clube, jogando na casa do adversário. Verdade! Tudo bem que ele disputou apenas uma partida na temida Sapolândia. Há quatro anos, é bom lembrar. Aliás, este foi o único gol de Zezinho Bambu como jogador profissional, justamente contra o rival.
- O goleiro russo Igor Shostakovsky nunca sofreu gols em jogos contra países da antiga União Soviética, em partidas válidas pelas eliminatórias da Eurocopa, atuando em Moscou. Verdade! Foram dois jogos, um contra o Turcomenistão, e outro contra a Moldávia, 7 a 0 e 4 a 0 para a Rússia. E, em um deles, Shostakovsky entrou aos 44 minutos do segundo tempo.
- Jogando com a camisa 22, Pelé nunca fez gols reconhecidos na contagem oficial da FIFA. Média de zero gol para o maior jogador de todos os tempos. Verdade!
- O XV de Quixeramobim jamais foi derrotado fora do Ceará, jogando numa quinta-feira à noite, num dia 17, usando seu uniforme reserva. Verdade! Sua única partida fora do estado foi um amistoso contra o ABC, em Natal, no longínquo 1972. Terminou 8 a 0 para o ABC, mas foi domingo, de manhã, dia 30, e o XV estava com seu jogo de camisas principal.
- O Touro Bravo FC nunca perdeu uma partida oficial com João Picolé e Ubaldino Sergipano juntos em campo. Verdade! Um jogou entre 1942 e 1949, e o outro entre 1999 e 2007.
Cada um faz o que quer e o que consegue com os números, no jornalismo esportivo. Tudo é válido e, desde que seja verdade, não há problema algum. Fica, então, a frase do famoso Homer J. Simpson, chefe de segurança em uma usina nuclear dos Estados Unidos.
- As pessoas inventam estatísticas para provar qualquer coisa, 40% sabem disso.
Mais um texto excelente, Marco!
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