terça-feira, 7 de junho de 2011

O primo mala

Na era do politicamente correto, é quase heresia eu dizer que morria de vontade de dar umas porradas no meu primo Rafael, dez anos mais novo que eu, um tempinho atrás. Paciência zero, tolerância idem. Só mesmo vontade de espancar o moleque.

Eu tinha razão. Que sujeitinho chato, implicante, dono da verdade e petulante. E olha que eu jamais fui de violência. Nunca levantei a mão nem pra espantar mosca, mas o tal Rafael me tirava do sério. E por muito pouco não levou uns tabefes.

Ele era o típico carinha que gostava de cutucar. De colocar tachinha na cadeira dos outros. De cantar Parabéns pra Você atravessado nos aniversários. De reclamar da música que meu avô escutava no rádio. Enfim, a melhor personificação da palavra 'pelinha'.

Mas aí o tempo passou e o Rafael cresceu. Eu também amadureci e, aos poucos, fui criando afinidade com o moleque. Tocamos violão juntos, ele dirigia meu carro escondido dos pais, e o primeiro copo de cerveja do garoto saiu da garrafa que eu comprei.

Criei tolerância, é claro, mas foi por causa dele. Aos poucos fui entendendo que ele era tão chato quanto eu quando era garoto. Que as macaquices dele eram inspiradas nas minhas. E que a necessidade de chamar a atenção dos outros era comum a nós dois.

Já erámos parceiros, quando um lance inesperado dele, me tornou seu fã. Meu tio, pai do Rafael, é torcedor do time rival ao meu, e por respeito a isso, nunca levei o moleque ao Mineirão e nem tentei convencê-lo a mudar de lado. Tem coisas na vida do homem que são sagradas e devem ser imaculadas. Até que o guri veio e me pediu para ir ao campo comigo porque queria ver meu time, já que torcia pra ele em segredo desde criança, porque queria ser como eu.

Puxa vida... tem algumas coisas que marcam a gente, e nunca vou me esquecer do porre que tomei com meu primo mala naquela noite de quarta no Mineirão.

É bom aprender com a vida e com os mais jovens. De priminho mala, o Rafa se transformou num dos meus melhores amigos. Hoje a diferença de idade nem é tanta, já que o caboclo é cidadão formado e respeitado, mesmo que pra mim ainda seja o mesmo moleque petulante dos seus tempos de infância.


* Para meu primo Rafael. Sim, ele existe!

4 comentários:

  1. Marcola, Meu Primo Meu Irmao
    voce e o kra vei,
    sou seu maior fã
    Obrigado.

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  2. "Para meu primo Rafael. Sim, ele existe!"
    Mas boa parte do que sou é pq me espelho em vc primão!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. O muleque petulante pelo qual eu tenho o maior orgulho !!! Quanta falta voce me faz ,cuida dele por mim !!!

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