sábado, 25 de junho de 2011

A briga

Eu me lembro bem da noite em que o Roberto e o Tico brigaram. Foi por causa de uma falta do Genílson sobre o Sérgio Araújo, num Cruzeiro e Atlético, de 1987, salvo engano da memória cansada.

Roberto e Tico eram amigos inseparáveis. Mais que primos, mais que dois irmãos talvez. Da mesma idade, colegas de sala, um vivia na casa do outro. Iam pra escola juntos, almoçavam, jogavam bola depois da aula, seguiam pra igreja, tudo sem largar um do outro.

Cresceram e começaram a namorar duas irmãs. Marchavam juntos pra casa das moças e combinavam as mesmas mentiras quando queriam fugir mais cedo. O Tico fez 18 anos e ganhou um carro de presente, mas só o Roberto tinha carteira de habilitação. Isto não foi problema e os dois se viraram do jeito que dava.  Passaram juntos no vestibular e continuaram estudando na mesma sala.

Até que um dia foram juntos pro Mineirão. O Roberto atleticano e o Tico cruzeirense. Mas nem isto era empecilho pra eles. Acostumados a assistir ao clássico mineiro lado a lado desde pequeninos, sabiam se respeitar e conheciam o limite das brincadeiras entre vencedor e perdedor.

Mas aí, neste jogo de 1987, se não me falha a memória, o Sérgio Araújo, ponta-direita do Atlético, recebeu uma bola e partiu pra cima do Genílson, lateral-esquerdo do Cruzeiro. Os dois se embolaram, caíram no chão e o juiz mandou o jogo seguir. Roberto gritou que era falta. Tico falou que não tinha sido nada, que foi um lance normal. Roberto contestou, Tico não deixou barato, e então começou a discussão.

Eles nunca tinham brigado por nada. Um sempre cedia quando via que o outro estava mais exaltado. Mas, neste dia, o papo sobre futebol esquentou e tomou outros caminhos. Um falou sobre a família do outro, que retrucou fazendo insinuações sobre o caráter da namorada do amigo.

Foram embora sem se falar. Os dois com raiva, mas sabendo que aquela bobagem não iria durar muito.  Na segunda-feira, o Roberto não ligou pro Tico, que não passou na casa dele pra carona de costume. Na terça se ignoraram na faculdade. Quarta de silêncio. Quinta idem. Na sexta foram pra duas festas diferentes. Até que a distância se tornou habitual e Roberto e Tico nunca mais se falaram.

Cada um seguiu seu rumo na vida. Terminaram os namoros com as irmãs, seguiram profissões diferentes e se mudaram do velho bairro de infância. Nós, os amigos mais chegados, tentamos a reaproximação dos dois em várias oportunidades. Mesmo sem mostrar raiva um pelo outro, eles nunca toparam fazer as pazes. E jamais mais conversaram novamente nestes 25 anos.

Eu me lembro bem da noite em que o Roberto e o Tico brigaram. Foi por causa de um pênalti do Lenílson sobre o Márcio Araújo num Atlético e Cruzeiro, de 1985 ou 1986, salvo algum lapso da memória. Motivo melhor que este pra acabar uma amizade de infância eu desconheço.

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