Tem uma coisa na minha vida de leitor e telespectador que é muito curiosa, pra não dizer engraçada. Toda vez que eu vejo um documentário ou um filme baseado em uma história real, eu torço para que o final seja diferente daquele que conheço e sei de cor há muitos anos. Mesmo sabendo que não vai adiantar nada.
Foi assim quando li a gigante biografia de 1000 páginas dos Beatles, escrita pelo americano Bob Spitz. Entre outras coisas que me deixaram agoniado, torci pro John Lennon não aceitar um convite pra visitar a exposição de uma certa artista plástica japonesa, que ele ainda não conhecia, em Londres. Talvez tudo tivesse sido diferente.
Torci também, ferrenhamente, diga-se de passagem, para que Garrincha não tomasse o primeiro gole de cachaça, ainda na sua infância, em Pau Grande, quando li Estrela Solitária, do Ruy Castro. E esta semana, revivi todo meu drama de tentar mudar o passado, ao assistir ao documentário sobre a vida de Raul Seixas no cinema. Só Deus sabe quantas vezes eu quis entrar na tela para mudar o destino do meu ídolo de infância...
Não pude deixar de comparar a situação com o futebol, e com as várias vezes em que torci para que o placar de uma partida que me fez sofrer fosse diferente, enquanto eu assisitia ao videotaipe.
Eu rezei para que tivessem marcado Paolo Rossi direito, pelo menos em uma das três vezes em que o italiano surgiu sozinho na frente do goleiro brasileiro. Senti culpa ao desejar que a maldita convulsão tivesse acometido Zidane, ao invés de Ronaldo, na final da Copa da França. E, como bom mineiro que sou, torci para que, ainda que em uma noite apenas, Zico tivesse sido traído pelo joelho operado, e Verón sofresse os males da gripe suína.
É claro que nunca fui feliz nos meus desejos de mudar o passado. Na verdade, isto não me frustra. Mas me serve de lição. Para tentar fazer com que meu presente e, consequentemente, o meu futuro, sejam, daqui a alguns anos, motivo de orgulho. E não algo que eu queria mudar dramaticamente, ao assistir ao VT.
SENSACIONAL, não tem mais o que falar
ResponderExcluirÉ, Marcão, o passado ensina, mas é irreparável. Abraços
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