A ciência explica facilmente porque você é louco por cerveja e não resiste a uma picanha mal passada sobre um bocadinho de arroz branco. Seu insaciável apetite por lasanhas, moquecas e feijoadas, em todas as ocasiões, também é artigo de simples entendimento para qualquer sujeito de jaleco branco. O mesmo vale para chocolates, doces e pudins das mais variadas espécies. Meia hora de leitura sobre as papilas gustativas da língua humana e sobre as propriedades dos alimentos, tais como cheiro, textura e, principalmente, sabor, dissipam todas as possíveis dúvidas.
A ciência explica tranquilamente porque você perde a calma, o
juízo e a razão quando chega perto daquela morena. E também é capaz de elucidar
o mistério do porquê todo o processo se repetir ao lado da loira. E da mulata.
E da ruiva. Na verdade, a culpa não é sua. Seu corpo carrega uns negócios
chamados hormônios que desencadeiam reações que você conhece bem, sabe
exatamente como funciona, mas nunca consegue impedir que avacalhem com sua vida.
Talvez seja melhor assim.
A ciência explica didaticamente e de forma bem simples
porque você chora, ri e dorme. E também porque fica irritado, empolgado e
chateado. Explica porque você sente dor e até mesmo porque alguns de vocês têm
prazer nisso. Explica porque você é gordo, magro, gago, sonso, campeão dos 100
metros rasos ou bom em matemática. Explica porque você não pode transformar
ferro em ouro e nem passar por aqui sem morrer.
Enfim, a ciência explica praticamente tudo que existe neste
mundo. Mas ainda há um mistério que não foi elucidado. E eu desafio qualquer
doutor a decifrá-lo. O que leva um ser humano, dono de suas perfeitas
faculdades mentais, a ser torcedor fanático de um clube de futebol? Veja bem
que a dúvida não está em gostar ou não do esporte, mas em ser apaixonado por um
determinado time. Sim, qualquer um, incluindo os poderosos Barcelona, Bayern de
Munique, Manchester United e Milan. Porque até eles já passaram por fases
tenebrosas em algum momento da história.
Chega um dia em que você para pra pensar. Sua vida vai muito
bem, no final das contas. Está resolvido
no amor, trabalha com o que gosta e ainda é bem remunerado por isto. A saúde
está perfeita, os amigos estão por perto e a família vive feliz. Você sabe que
está sendo fiel com seus ideais e honesto com quem o rodeia. Mas aí seu time
toma uma goleada do maior rival e nada mais presta em sua existência. A dor
invade seu peito e a tristeza e a raiva te consomem. Além de te impedirem de
sair de casa, se relacionar com outras pessoas e até mesmo de viver em
sociedade.
A ciência não explica isso. Não há fórmula, teorema ou axioma
que responda tamanha aberração. É mais ou menos o mesmo que acontece naqueles
dias em que você se descobre só, abandonado e triste. Vivendo miseravelmente entre
melancolia e inércia, entre tosse e pigarro, numa existência que você considera
inútil, contando os minutos para o fim desta tortura chegar. Até que seu time
dá uma surra no maldito rival e subitamente tudo muda. Você vira dono de vinte
Ferraris, de uma ogiva nuclear ou de um ranchinho ao pé da serra, não importa o
tamanho de sua ambição nesta hora. O que é certo e o que conta pra você é a
sensação de poder e invencibilidade. Você é o cara mais feliz do mundo e vai
gritar pro mundo inteiro ouvir.
O homem já conseguiu respostas para praticamente todas as
perguntas. Mas algumas ainda continuam sendo enormes enigmas, embora a
humanidade tenha feito consideráveis progressos tecnológicos nesta eterna
busca. Certas dúvidas, entretanto, devem permanecer incomodando por mais um
tempo. Qual a origem da vida? Para onde vamos após a morte? Por que as pessoas
torcem para um time de futebol? Tantas incertezas, tantos mistérios...
A ciência também não explica porque as pessoas mudam de religião, partido político e até de preferência sexual. Mudam de mulher ou de homem, mudam de sexo. Mas... nunca mudam de time.
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