quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A ciência


A ciência explica facilmente porque você é louco por cerveja e não resiste a uma picanha mal passada sobre um bocadinho de arroz branco. Seu insaciável apetite por lasanhas, moquecas e feijoadas, em todas as ocasiões, também é artigo de simples entendimento para qualquer sujeito de jaleco branco. O mesmo vale para chocolates, doces e pudins das mais variadas espécies. Meia hora de leitura sobre as papilas gustativas da língua humana e sobre as propriedades dos alimentos, tais como cheiro, textura e, principalmente, sabor, dissipam todas as possíveis dúvidas.

A ciência explica tranquilamente porque você perde a calma, o juízo e a razão quando chega perto daquela morena. E também é capaz de elucidar o mistério do porquê todo o processo se repetir ao lado da loira. E da mulata. E da ruiva. Na verdade, a culpa não é sua. Seu corpo carrega uns negócios chamados hormônios que desencadeiam reações que você conhece bem, sabe exatamente como funciona, mas nunca consegue impedir que avacalhem com sua vida. Talvez seja melhor assim.

A ciência explica didaticamente e de forma bem simples porque você chora, ri e dorme. E também porque fica irritado, empolgado e chateado. Explica porque você sente dor e até mesmo porque alguns de vocês têm prazer nisso. Explica porque você é gordo, magro, gago, sonso, campeão dos 100 metros rasos ou bom em matemática. Explica porque você não pode transformar ferro em ouro e nem passar por aqui sem morrer.

Enfim, a ciência explica praticamente tudo que existe neste mundo. Mas ainda há um mistério que não foi elucidado. E eu desafio qualquer doutor a decifrá-lo. O que leva um ser humano, dono de suas perfeitas faculdades mentais, a ser torcedor fanático de um clube de futebol? Veja bem que a dúvida não está em gostar ou não do esporte, mas em ser apaixonado por um determinado time. Sim, qualquer um, incluindo os poderosos Barcelona, Bayern de Munique, Manchester United e Milan. Porque até eles já passaram por fases tenebrosas em algum momento da história.

Chega um dia em que você para pra pensar. Sua vida vai muito bem, no final das contas. Está resolvido no amor, trabalha com o que gosta e ainda é bem remunerado por isto. A saúde está perfeita, os amigos estão por perto e a família vive feliz. Você sabe que está sendo fiel com seus ideais e honesto com quem o rodeia. Mas aí seu time toma uma goleada do maior rival e nada mais presta em sua existência. A dor invade seu peito e a tristeza e a raiva te consomem. Além de te impedirem de sair de casa, se relacionar com outras pessoas e até mesmo de viver em sociedade.

A ciência não explica isso. Não há fórmula, teorema ou axioma que responda tamanha aberração. É mais ou menos o mesmo que acontece naqueles dias em que você se descobre só, abandonado e triste. Vivendo miseravelmente entre melancolia e inércia, entre tosse e pigarro, numa existência que você considera inútil, contando os minutos para o fim desta tortura chegar. Até que seu time dá uma surra no maldito rival e subitamente tudo muda. Você vira dono de vinte Ferraris, de uma ogiva nuclear ou de um ranchinho ao pé da serra, não importa o tamanho de sua ambição nesta hora. O que é certo e o que conta pra você é a sensação de poder e invencibilidade. Você é o cara mais feliz do mundo e vai gritar pro mundo inteiro ouvir.

O homem já conseguiu respostas para praticamente todas as perguntas. Mas algumas ainda continuam sendo enormes enigmas, embora a humanidade tenha feito consideráveis progressos tecnológicos nesta eterna busca. Certas dúvidas, entretanto, devem permanecer incomodando por mais um tempo. Qual a origem da vida? Para onde vamos após a morte? Por que as pessoas torcem para um time de futebol? Tantas incertezas, tantos mistérios...

Um comentário:

  1. A ciência também não explica porque as pessoas mudam de religião, partido político e até de preferência sexual. Mudam de mulher ou de homem, mudam de sexo. Mas... nunca mudam de time.

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