quinta-feira, 12 de abril de 2012

O gaúcho de Belo Horizonte

* Por Hércules Santos


São histórias como essa que me fazem ter um orgulho típico do gaúcho por morar em Belo Horizonte. O povo do sul do Brasil, especialmente o porto-alegrense, defende com todas as forças as tradições, costumes e até manias típicas da terra do bom churrasco. Alguns se excedem e pedem a transformação do estado, bem como da região, em outro país. O que fica de bom é o orgulho de ser filho do Rio Grande, tchê, e isso emociona quem valoriza as raízes.

Numa viagem à capital gaúcha, entro no táxi e mando o tradicional bom dia, sempre imaginando que aqueles 15 minutos até o aeroporto possam ser de bom papo com as ótimas histórias contadas por taxistas. Eles sempre têm algo de bom para nos tirar do mundo real e viajar antes da viagem real. Sem muito assunto eu lanço a frase:

- O dia está bem bonito aqui hoje, hein? Até ontem foram dias de céu nublado. Na minha cidade, Belo Horizonte também está muito frio, mas agora está melhorando.

- O quê, você é de Belo Horizonte? Pergunta o taxista. Pois eu tenho uma dívida de gratidão com sua cidade, guri. Passei três anos maravilhosos por lá e recuperei meu filho que sofria de asma.

Nesse momento percebi a emoção do Sr. Sérgio, que confessou ficar arrepiado.

- Talvez você não tivesse nascido ainda, mas entre 1979 e 1982 me mudei pra lá por recomendação médica e toda vez que encontro algum conterrâneo seu tenho que agradecer e contar a história.

Estava aí. Em menos de cinco minutos consegui o que queria: um bom papo para o trajeto até o aeroporto Salgado Filho.

- Meu filho nasceu com asma. Você conhece?

- Sim, conheço.

- Então o médico me disse que teria de sair da umidade de Porto Alegre e me receitou mudar para Belo Horizonte. Nenhuma cidade a mais. Belo Horizonte era o remédio. Então, minha esposa, que era funcionária pública federal, conseguiu transferência e nos mudamos para lá.

A parte mais emocionante dessa história foi o relato dos momentos em que Sérgio levava o filho para o parque das Mangabeiras.

- Ainda existe?

- Sim - digo.

O taxista que implorava pela recuperação do filho revelou que passava horas com o bebê no colo massageando os pulmões para que o simples ar de nossa terra curasse o garoto, ou melhor, o guri. A emoção foi aumentando, e os olhos daquele senhor com ar experiente e feliz chegaram a ficar marejados de lágrimas por causa da recuperação do filho. Ele conta que o garoto hoje está com 35 anos e faz mergulho, pega peixe com a unha e goza de muita saúde.

- Tudo por causa da sua cidade, senhor!

A parte triste do relato é a volta pra casa. Primeiro porque Sérgio queria permanecer em BH, depois porque fez muitos amigos e finalmente porque envolveu a perda de uma outra pessoa muito querida por ele: a esposa. O pai de sua esposa também faleceu e depois aquela que passou por muitos momentos felizes ao lado do Sr. Sérgio. Durante os 15 minutos do trajeto até o aeroporto, o taxista também teceu vários elogios à esposa, que por muitas vezes, principalmente em Belo Horizonte, foi a base financeira da família, tendo em vista as dificuldades do nosso personagem em conseguir emprego na capital dos mineiros.

Em toda a vida, toda história é feita de bons e maus momentos e, felizmente, nesse caso, o que prevaleceu foi a parte afetiva, o carinho e o sentimento que o gaúcho não fez questão nenhuma de esconder.


* Hércules Santos é narrador da Rádio Globo Minas, guitarrista e vocalista da Banda Plug! e amigo da melhor qualidade.

Um comentário:

  1. Um caso típico do Velho Ludopédio! Que causo forte, Sr. Hércules!

    Se a gente ouvisse as pessoas, prestasse mais atenção no que elas têm a dizer, teria mais sucesso em nossa vida.

    Um abraço!

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