domingo, 6 de novembro de 2011

Aprender

Eu era menino ainda, não tinha nem 10 anos completos, mas já adorava os livros, filmes e revistas sobre futebol que caíam na minha mão. Lembro-me bem que eu só escrevia e falava sobre o assunto na escola. Na verdade, isto era uma coisa fenomenal, porque, se na teoria eu sabia tudo, na prática era terrível. Não conseguia dar um chute na bola e mandá-la na direção que queria. Tentava, tentava e era uma vitória quando conseguia ficar em pé após os bicudos.

Fui me aventurar no gol, como a maioria dos pernas-de-pau faziam, mas a latente miopia logo travou meus objetivos, já que tudo que ia na minha direção passava sem resistência, como se eu fosse uma peneira tapando o sol ou carregando água. Decidi então, aos 12 anos de idade, me dedicar ao futebol do lado de fora dos gramados, sem saber exatamente em que área iria me aventurar.

Restaram-me três caminhos. Eu poderia ser árbitro, técnico ou cronista esportivo. Não queria ser juiz porque sempre tive um carinho especial pela minha mãe. Nesta decisão, pesou também o problema das vistas fracas. Mesmo que, muitos dos que apitavam na época fossem cegos, eu não queria fazer parte da inglória trupe.

Ser treinador, portanto, era a minha profissão ideal! Na minha cabeça, eu já sabia tudo sobre táticas, posicionamentos e marcação por zona. Tinha lido os detalhes sobre o Uruguai de 1924, o Vasco de 1948 e a Holanda de 1974. Mas, quando me perguntaram como marcar um cara como Mané Garrincha ou fazer um gol no Lev Yashin, eu comecei a gaguejar e a suar. Pensei comigo mesmo:

- Maldade, pô. Sei tudo sobre futebol, mas também não é assim! Só tenho 13 anos!

O que me restou, então, foi ser cronista esportivo. Ainda decepcionado com meu fracasso em relação aos esquemas e regras do jogo, fui para um bar, no velho bairro da Renascença, em Belo Horizonte, sentei numa mesa escura num cantinho e pedi um conhaque. Puxei papo com uns gaiatos do lugar e comecei a contar casos de Neném Prancha e a citar crônicas de Nélson Rodrigues, como se as tivesse vivido bem de perto.

Não precisaram de mais do que dez minutos para me desmascarar. E mesmo que todos parecessem cruéis, o negócio era esse mesmo. Eu era um gaiato! Não sabia nada sobre futebol. Durante todo aquele tempo em que não conseguia jogar, sempre me preocupei mais em ensinar sobre o jogo que não conhecia e impressionar as pessoas do que em tentar aprender de verdade.

Enormemente decepcionado com o esporte que sempre amei, segui minha vida, me formei em direito, economia e engenharia civil. Nunca mais joguei bola, apitei um jogo real ou escrevi um artigo sobre alguma partida. Mas nunca deixei de acompanhar aqueles movimentos complicados que sempre tentei entender.

Só depois de passar tanto tempo longe da bola é que consegui perceber. E hoje posso ver tudo claramente. Futebol é uma das coisas mais simples da vida. Futebol é para ser aprendido, não explicado. Futebol, para pessoas como eu, é para ser vivido! E agora sim, tudo faz sentido!

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